domingo, 9 de outubro de 2016

Autenticidade

William Nascimento

     Existe uma variedade de instituições que frequentamos ao longo de nossas vidas: científicas, religiosas, jurídicas, governamentais, tecnológicas, comerciais, educacionais, familiares etc. Frequentemente acontece que por trás das instituições onde deveria haver pessoas, surpreende o fato de que raramente encontramos verdadeiras pessoas nas instituições, e sim papéis sendo representado de modo muitas vezes frio, mecânico e automatizado. Em muitas destas instituições podemos ver muita promoção pessoal, exibição de conhecimentos, busca por aprovação, tentativas de impressionar, se afirmar, parecer mais instruído.
       Dependendo do objetivo da instituição podemos ver diferentes maneiras de representar um papel. Neste modo de operar na sociedade acabamos perdendo o contato com aquilo que verdadeiramente somos, que é ser uma pessoa. Não estamos aqui para representar papeis, por mais variados que eles possam ser, por maior credibilidade, poder e prestígio que eles possam demonstrar.
       Você já se pegou representando um papel no qual demonstrava mais certezas e mais competência do que realmente tinha? Quem já se percebeu agindo com uma mascara ou uma fachada exterior, pode ter experimentado um desgosto consigo mesmo, um desapontamento interno, como se estivesse traindo a si próprio, não sendo autentico, verdadeiro ou transparente, de modo fiel a quem realmente é. Pode descobrir que estava  inseguro e ameaçado no momento,  buscou projetar um falso eu, afim de ser mais aceito pelo outro ou pelo grupo do qual era parte, mas a que custo?
       Por mais que seja necessário representar papéis na vida, é essencial se permitir entrar em contato com o que está vivenciando, ser genuíno. Ser verdadeiro, estar consciente do que quer que esteja se passando dentro de si é uma tarefa para toda a vida, embora seja difícil entrar em contato com o centro da própria experiência, é uma vivência muito gratificante.
     Quando o que vivenciamos num dado momento está presente em nossa consciência, e quando conseguimos expressar esta vivencia ao outro, e comunicar o que é autêntico em nós no momento em que ocorre, nos sentimos espontâneos, genuínos, vivos e o outro sente-se mais próximo e mais interessado em nós aumentando a confiança na relação. Quando reprimimos sentimentos por muito tempo eles podem explodir de forma inesperada, atacar e ferir ao outro, gerar uma ferida que pode levar muito tempo para se curar, com isso se perde um tempo precioso para reestruturar a relação.
      Se permitir ser verdadeiro com aquilo que se intenciona, sente, percebe e expressar ao outro, também permite ao outro ter objetivos, valores, sentimentos e intenções diferentes dos nossos. Deixar de se controlar tanto e se moldar conforme as situações, faz com que desenvolvamos um respeito por nós mesmos e pelo outro, aumentando o respeito pela liberdade individual de todos. Quanto mais pessoas se relacionarem como pessoas, de forma autentica maior a possibilidade de viver não como personagens, mas como essencialmente somos; humanos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Relacionar-se

William Nascimento

Antes de qualquer coisa caro leitor(a), sugiro uma reflexão para que realmente haja uma relação com este autor neste texto. Considere isto uma forma prática de entrar no complexo mundo das relações interpessoais. Por favor caro leitor, neste instante pergunte a si mesmo: Quero neste momento, dedicar o máximo de atenção que eu puder para compreender precisamente o que significa para esta pessoa o que ela quer me dizer? Note que a pergunta não se preocupa com o que o outro tem para dizer no sentido do conteúdo, e sim faz referência a pessoa que vai expressar. Se prestarmos atenção apenas no que é falado, ou na informação que as pessoas nos comunicam nossa relação fica superficial demais para que possamos sentir crescer um vínculo com o outro, desta forma mesmo que falemos com muitas pessoas ao longo do dia provavelmente vamos acabar nos sentindo muito sozinhos.
Vamos explorar um pouco mais a pergunta feita no inicio deste texto, com a palavra quero, não dou margem a nenhuma inautenticidade da minha parte, se eu realmente quero isto é uma escolha que fiz, como cada escolha é uma renúncia, neste momento é decidido deixar de lado todas as outras possibilidades, eu paro o que estou fazendo então ouço o outro. O querer envolve manter e sustentar a vontade de dedicar a atenção no outro até que se cumpra o objetivo ao qual se propôs, lembra qual era? Compreender precisamente o que significa para esta pessoa o que ela quer me dizer.
Note também que a pergunta continha duas palavrinhas muito importantes: neste momento, se não houver tempo disponível, embora se queira dedicar a atenção na compreensão do outro, então marque outra hora ou outro dia mas não se relacione com o outro as pressas, ainda mais sem saber a importância e a dimensão da conversa que o outro quer ter contigo.
Agora vamos analisar nesta pergunta que fizemos a nós mesmos, o que significa compreender? Compreender não é dar direções dizendo como o outro poderia ou deveria agir, não é interpretar o que o outro quer dizer tentando dizer ao outro como representar a situação, não é tranquilizar, apaziguar ou aliviar o outro, e obviamente não é uma entrevista em que se busca dados e mais dados, e certamente não estamos falando de avaliações, rotulações ou julgamentos. Compreender tem a ver com o sentimento nos bastidores da fala do outro, tem a ver com significados e intenções que não temos acesso de imediato, a não ser que realmente busquemos com um genuíno interesse pelo outro descobrir quais são. Estes pensamentos, sentimentos, intenções e significações tão particulares que num dado momento se tornaram uma fala e que o outro nos escolheu como ouvinte, será que percebemos a importância que temos aqui-agora para esta pessoa?  Essas coisas que são ditas, que parecem tão ruins para ela, tão frágeis, sentimentais, irônicas, bizarras, cômicas, trágicas ou sem sentido e desconexas, podemos precisamente ver como esta pessoa as vê e as percebe enquanto nos fala? Mais ainda, aceitamos o que ele(a) nos diz buscando colocar-nos no lugar desta pessoa? Enquanto a ouço o desejo de continuar ouvindo se mantém ou nos voltamos para nós mesmos e devaneamos em pensamentos particulares?
            Toda esta análise feita até aqui, se resume em consideração e apreço pelo outro. Quanto maior for nossa disposição para ouvir, mais significativo e enriquecedor será nossas relações interpessoais. A relação ao qual me refiro não leva em conta o papel representado naquele contexto e naquele momento, ou seja não importa a hierarquia, se é uma conversa de pai para filho, de empregado para patrão, de cliente para vendedor, médico e paciente etc. As pessoas que experimentam uma conversa de pessoa para pessoa, em que ambas sentem uma conexão e um encontro real, experimentam também um sentimento libertador, um espaço seguro, a relação aprofunda a confiança e as defesas caem. Uma relação baseada nestas características propiciam uma experiência de ser o que se é de forma natural e sem fachadas, é libertador poder conversar com pessoas num nível em que elas não tem receio de mostrar quem elas são conosco, ter intimidade, e descobrir muito de nós mesmos em cada pessoa.
            Muitas vezes o que o outro nos diz pode não ter aparentemente nenhum conteúdo mais íntimo e pessoal. É do nosso interesse buscar aprofundar a conversa, e há recursos que podemos utilizar, por exemplo parafrasear o que é dito repetindo brevemente o que acaba de ser dito para confirmar se estamos acompanhando o raciocínio. Podemos resumir o que o outro disse com nossas próprias palavras e se certificar com o outro se era isto mesmo que queria falar. Também com a receptividade no ouvir, poder intervir dependendo do conteúdo expresso fazer o outro voltar-se para si perguntando como é que ele se sentiu quando tal fato ocorreu, como foi viver esta experiência, valorizar a experiência é um bom modo de aproximar-se mais e mais, também podemos sentir que nos perdemos na conversa e pedir que repita, que nos esclareça melhor em alguns pontos. Todas estas formas de manter o interesse ajudam na compreensão e incentivam o outro a nos fornecer dados que ultrapassam a camada superficial da objetividade e passam a comunicar num nível mais subjetivo.
            Relacionar-se envolve disposição, tentativa, erro, e treino, mas é algo que nunca vamos deixar de fazer em nossas vidas, então porque não fazer com que essas relações tenham valor para nós e para os outros? Este autor agradece pelo tempo dedicado e o interesse do leitor que pode acompanhar a leitura até aqui, que nossas relações com os outros cresçam em níveis de intimidade cada vez maiores, e que possamos transformar a nós mesmos em bons ouvintes, que no nosso modo de ser com os outros possamos conviver melhor a cada momento em cada lugar com cada pessoa.

Referências bibliográficas

Rogers, C. R. (1997)Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes.

sábado, 12 de abril de 2014

Notas históricas das pesquisas de fenômenos parapsíquicos

Por William Nascimento

Pesquisas de Alvarado (2013, p. 158) relatam que foi a partir do mesmerismo no século XVIII que manifestações psíquicas tiveram a atenção do mundo acadêmico ocidental. O médico alemão Franz Anton Mesmer (1734-1815), pesquisava uma força chamada de "magnetismo animal", um tipo de força que controlaria o bem-estar humano. Mesmer inicialmente tentava curar seus pacientes através de hipnose, ímãs ou objetos magnetizados, posteriormente utilizava as próprias mãos, promovendo o reequilíbrio e remissão de doenças. A partir dos relatos de fenômenos de clarividência, telepatia, premonições, diagnósticos, curas dentre outros exibidos por sujeitos mesmerizados, alguns autores como J. P. F. Deleuze (1753-1835); Lawyer J. C. Colquhoun (1785-1854); Charles Lafontaine (1803-1892) e Johann Heinrich Jung-Stilling (1740-1817) afirmavam existir provas suficientes sobre a existência de uma alma imortal independente do corpo biológico (ALVARADO, 2013).
Segundo Stevenson (2007, p.150) a partir de 1882 em Londres que estudos sistemáticos foram desenvolvidos, a instituição responsável era a Sociedade de Pesquisa Psíquica (Society for Psychical Research - SPR) fundada por Myers (1843-1901) e Gurney (1847-1888). Segundo Alvarado (2013) a proposta da SPR era apresentar “uma tentativa organizada e sistemática de investigar o grande grupo de fenômenos controversos designados por termos como mesmérico, psíquico e espiritualista”. O autor descreve a contribuição de acadêmicos proeminentes associados com a SPR tais como: Henry Sidgwick (1838-1900); William Barret (1844-1925); Balfour Stewart (1828-1887); o político Arthur Balfour (1848-1930); o psicólogo William James (1842-1910); o químico e físico William Crookes (1832-1919); o físico Oliver Lodge (1851-1940), o fisiologista Charles Richet (1850-1935); o filósofo Henri Bergson (1859-1941); Frank Podmore (1856-1910).
Posteriormente foi fundada duas instituições em 1885, a Sociedade Francesa de Pesquisa Psíquica (Société Française pour Recherche Psychique - SFRP), e a Associação Americana de Pesquisa Psíquica (American Society for Psychical Research) que se tornou afiliada da Sociedade original em 1890.
A Universidade Duke fundada em 1927, também se interessou pelo que era chamado na época de campo de investigação de fenômenos psíquicos, cujo contexto da época e demandas da mídia se esperava encontrar evidências de vida após a morte. William McDougall e Joseph B. Rhine criaram em 1935 um laboratório na Universidade Duke para estudar experimentalmente tais fenômenos estabelecendo a ciência denominada de parapsicologia. (RHINE RESERCH CENTER, 2013).
Segundo Vieira (2009, p. 88) a Parapsicologia foi reconhecida como ciência em 1969 e admitida por 165 votos contra 30, na qualidade de membro da American Association for the Advancement of Sciente (A. A. A. S.). A sociedade A. A. A. S, foi fundada em 1957, em New York e conta com 200 pesquisadores de todos os ramos, em 25 países, e aceitou oficialmente, como nova divisão sua, a filiação da Parapsychological Association (P. A), na qual figuram os mais eminentes parapsicólogos internacionais. Tal fato equivaleu a aceitar a Parapsicologia como sendo uma subdivisão da ciência, com os mesmos direitos das outras subdivisões. [...] Existem funcionando, atualmente, 129 cursos científicos ou laboratórios de Parapsicologia espalhados por todo o planeta em instituições diversas.  
O relato autobiográfico de Stevenson (2007) apontou que nos anos 60, suas pesquisas a partir de relatos de casos individuais sobre a paranormalidade, já eram contestados por pioneiros nos estudos da parapsicologia, eles lhe disseram que não eram significativos, do ponto de vista científico tais estudos eram inúteis.
Porém casos individuais de fenômenos parapsicológicos tem demonstrado o seu valor. A prestigiada revista científica New Scientist, realizou tempos atrás, [anterior a 2009] em iniciativa de um dos seus editores, uma pesquisa para provar que a comunidade científica rechaçava a existência dos fenômenos parapsicológicos. O resultado foi o oposto, e cerca de 75% dos pesquisados opinaram que estes fenômenos estavam comprovados, ou em vias de comprovação. O que surpreendeu foi o fato de que 40% dos cientistas pesquisados declararam que aceitavam a realidade dos fenômenos parapsicológicos por tê-los experimentado pessoalmente (VIEIRA, 2009, p.89).
 Segundo Balona (2008, p. 23-24) a Psicologia área que há pelo menos dois séculos, vem se ocupando do estudo do aparelho psíquico, da mente, do comportamento e da personalidade, está hoje dividida em mais de uma centena de teorias explicativas. Contudo, até o momento (Ano-base 2008), nenhuma delas alcançou pleno consenso em sua abordagem na obtenção de respostas sobre a estrutura (do que é feita?), a dinâmica (como funciona?) e evolução (como se desenvolve?) da consciência. A autora relata que a Projeciologia e a Conscienciologia vêm agora para atender à uma tarefa delicada e complexa: mudar a ciência e o cientista. Para Balona quando os fenômenos teimam em aparecer pontualmente, e continuam a existir sem explicações satisfatórias, chegou a hora de renovar os instrumentos de pesquisa e não de ocultar o fenômeno.
Visando atender a difícil tarefa de mudar a ciência e o cientista, Vieira propôs a Conscienciologia, este termo foi proposto publicamente em 1981 para definir a nova ciência dedicada ao estudo da consciênciaPartindo do princípio de que a manifestação da consciência vai além do cérebro físico e que é independente do corpo humano.
Vieira e colaboradores fundaram em 1988 o Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia – IIPC. Atualmente existem 15 centros educacionais espalhados pelo Brasil e 3 no exterior. O IIPC expandiu suas especialidades abrindo posteriormente mais 15 instituições parceiras. Em uma destas instituições parceiras o Centro de Altos Estudos da Conscienciologia - CEAEC, foi transformado em sede da Conscienciologia. No CEAEC foi fundado em 1997 o primeiro laboratório para o pesquisador experimentar por si mesmo algumas técnicas propostas por Vieira. Atualmente no CEAEC existem 18 laboratórios fundados especialmente para que o pesquisador experimente pessoalmente as dinâmicas e trabalhos parapsíquicos realizados nestes locais.
Os auto-pesquisadores da Conscienciologia são incentivados a ter suas experiências pessoais a partir da prática de técnicas específicas para desenvolver o parapsíquismo. Suas experiências pessoais, rendem artigos e livros, demonstrando que os relatos de casos individuais não são inúteis do ponto de vista científico. O paradigma proposto por esta nova ciência tem auxiliado inúmeras pessoas a comprovarem por si mesmos que existem outras dimensões além da matéria, outros corpos que utilizamos para acessar tais dimensões, e que somos resultado de várias idas e vindas pela terra.

REFERÊNCIAS
1. Alvarado, C. S.; Machado, F. R.; Zangari, W.; Zingrone, N. L. Perspectivas históricas da influência da mediunidade na construção de ideias psicológicas e psiquiátricas. Revista Psiquiatria Clínica. 34, supl 1; 42-53, 2007.
2. Stevenson I. Metade de uma carreira com a paranormalidade. Revista Psiquiatria Clínica. 34, supl 1; 150-155, 2007.
3. Alvarado, C. S. Fenômenos psíquicos e o problema mente-corpo: notas históricas sobre uma tradição conceitual negligenciada. Revista Psiquiatria Clínica. 2013;40(4):157-61.
4. Rhine Reserch Center. Disponível em http://www.rhine.org/who-we-are/history.html. Acesso em: 10/04/2014)
5. Balona, M. Projeciologia: Cultura parapsíquica e autopesquisa científica. Journal of Conscientiology, anais do 4° CIPRO- Congresso Internacional de Projeciologia. Vol II,n°41-S, p. 9-317.
6. Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia – IIPC. Disponível em http://www.iipc.org/sobre-o-iipc/quem-somos/. Acesso em: 12/04/2014.
7. Centro de Altos Estudos da Conscienciologia. Disponível em http://www.ceaec.org/index.php?option=com_content&view=article&id=83&Itemid=315. Acesso em 12/04/2014.
8. Vieira. Projeciologia, panorama das experiências da consciência fora do corpo humano. 10 ed. Foz do Iguaçu. 

sábado, 5 de abril de 2014

Mediunidade e Projetabilidade: em busca de maior liberdade espiritual

Por William Nascimento

            Uma das definições possíveis de mediunidade é "a comunicação provinda de uma fonte que é considerada existir em um outro nível ou dimensão além da realidade física conhecida e que também não proviria da mente normal do médium" (KLIMO, 1998 apud ALMEIDA e NETO, 2004, p. 131).
            Estudos de Alvarado, Machado, Zangari e Zingrone, (2007) revelaram que a mediunidade, veio a tona a partir do  século XVIII nos EUA. No  ano de 1847, em Nova York a família Fox, marcava formalmente o inicio das chamadas sessões mediúnicas, fornecendo a base para o que foi denominado de espiritismo. A família era composta pelo Sr. e Sra Fox e três filhas, Leah (23), Margareth (15) e Katherine (12). Ocorreram fenômenos estranhos em sua residência, como batidas nas paredes chamadas raps de origem desconhecida, o fenômeno sempre ocorria na presença das duas filhas menores. Elas codificaram essas batidas com objetivo de se comunicarem com o autor invisível. A notícia espalhou e atraiu muitas pessoas em busca de comunicação com os mortos, foram realizadas diversas sessões em que até as mesas chegavam a girar. Mesmo mudando de residência os fenômenos voltaram a ocorrer.
            Por volta de 1870, outras sessões se espalharam pelos EUA, Europa e Brasil, atraindo a atenção do cético pedagogo francês Hippolite Leon Denizard Rivail. Acadêmico convidado a colher os relatos nos centros espíritas e unificar as informações, passou a acreditar na mediunidade chegando a publicar em 1857, O livro dos espíritos,  adotando o pseudônimo Allan Kardec, segundo ele ditado por espíritos. Posteriormente sob orientação espiritual, Kardec publicou  outras obras, O Livro dos Médiuns (1955), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1944), A Gênese (1944) e Céu e Inferno (1944). (ALVARADO, MACHADO, ZANGARI, ZINGRONE, 2007).
            Segundo Stoll (2009, p. 16) entendida como modo de comunicação entre vivos e mortos, a experiência mediúnica promove, por meio do transe, a superposição entre planos distintos de existência. A pessoa como no caso do candomblé, constitui o lugar de produção dessa conjunção. [...] A preservação da identidade dos personagens envolvidos (isto é, dos "espíritos", assim como dos sujeitos empíricos que lhes dão suporte) constitui um pressuposto da doutrina. O que se observa é que ela opera no eixo vertical, uma vez que se entende que o encontro de seres de mesma natureza, porém desiguais quanto ao seu grau de "desenvolvimento espiritual", concretizando-se por meio de relações assimétricas, de ordem hierárquica. A ideia de "faixas vibratórias", espécie de campo virtual de construção das relações de convivência entre vivos e entre estes "espíritos", complementam essa visão, sugerindo que os vínculos construídos na experiência mediúnica são de "ordem moral".
            Tal como no candomblé, acreditam os adeptos do espiritismo que a prática da mediunidade promove o controle da experiência extática por parte dos sujeitos empíricos [médiuns]. Isto é, uma vez ultrapassada a fase de iniciação, o assujeitamento se torna voluntário. Daí afirmar-se que o médium não é alguém que simplesmente se sujeita à vontade dos "espíritos". Diz-se que é ele quem dá "passagem", "entra em harmonia", "abre seu campo de vibração" para a manifestação do "outro". Com base nessa concepção os espíritas distinguem o transe mediúnico da possessão. "Deixar-se possuir", isto é alienar-se de si, constitui o que eles definem como obsessão, categoria que utilizam para classificar a experiência do aniquilamento da individualidade, isto é, do livre-arbítrio, que define, segundo eles, o ser humano. (STOLL, 2009, p. 16).
            Um outro autor vai um pouco mais além no que tange ao livre-arbítrio e a sujeição aos espíritos. Segundo Vieira (2009, p. 799.) na sessão parapsíquica [entenda por mediúnica] de qualquer gênero estamos apenas nas proximidades ou cercanias das dimensões extrafísicas [isto é mundo espiritual]. Se desejamos conhecer os seus habitantes, os seus ambientes, as suas comunidades atrasadas ou evoluídas, os seus eventos, a sua parageografia, e sua para-sociologia, precisamos entrar e viver, nem que seja temporariamente, nesses mesmos ambientes. Não existem excursões turísticas, programadas para esse fim, portanto, só há um recurso ou alternativa: promover a autoprojeção lúcida para quem já demonstra esforço e disposição em tentativas e esforços continuados. Aqui o autor está dando outra alternativa para a comunicação com o mundo espiritual, o que ele chama de autoprojeção lúcida, significa que a pessoa pode sair do corpo e ter acesso direto ao mundo extrafísico.
            Vieira também aponta  que 5% da humanidade tem algum talento parapsíquico, e que 1% dessa humanidade já se projetou conscientemente para fora do corpo. Também cita algumas vantagens da experiência fora do corpo. Segundo Vieira (2009, p. 803) o projetor(a) consciente dispensa as qualidades destes agentes de mediação e desempenha todas as tarefas diretamente [eliminando a sessão mediúnica] e, com sua presença, vai, vê, vivencia e volta relatando, por si mesmo, tudo sobre a dimensão extrafísica, de primeira mão, sendo o repórter, o comentarista e o exegeta ao mesmo tempo. O autor relata ainda que o projetor consciente pode fora do corpo, se manifestar através de um médium numa sessão mediúnica, mesmo estando encarnado. Relata também que ao invés de esperar ajuda de algum espírito benevolente, a própria pessoa pode ser o espírito bem feitor e trabalhar em equipe junto aos amparadores [espíritos protetores que nos auxiliam].
            Neste artigo vimos uma breve história da mediunidade e do espiritismo e realizou-se um paralelo com a prática da projeção consciente, apontado esta última como alternativa mais anímica, autonômica, e de maior liberdade, em relação a comunicação mediúnica com o mundo dos espíritos. Para aprofundar mais sobre as projeções conscientes tratadas por Vieira, este autor sugere a visita a este link: http://www.parasinapse.blogspot.com.br/2013/07/tecnicas-projetivas.html que descreve as técnicas propostas pelo autor para sair do próprio corpo com lucidez.  

REFERÊNCIAS
1. Almeida e Neto. A mediunidade vista por alguns pioneiros da área mental. Revista Psiquiatria Clínica. 31 (3); 132-141, 2004.
2. Alvarado, Machado, Zangari e Zingrone. Perspectivas históricas da influência da mediunidade na construção de ideias psicológicas e psiquiatricas. Revista Psiquiatria Clínica. 34, supl 1; 42-53, 2007.
3. Stoll. Encenando o invisível: a construção da pessoa em ritos mediúnicos e performances de "auto-ajuda". Religião e Sociedade, RJ, 29 (1): 13-29, 2009.
4. Vieira. Projeciologia, panorama das experiências da consciência fora do corpo humano. 10 ed. Foz do Iguaçu. 

domingo, 30 de março de 2014

Experiência de quase morte (EQM): revisão da literatura

Por William Nascimento

            Há registros históricos de experiência de quase morte em muitas culturas. Os relatos aumentaram de fato a partir da década de 1950, após o surgimento de técnicas modernas de reanimação cardiopulmonar. (HAESLER; BAUREGARD, 2013). Essas experiências foram descritas esporadicamente na literatura médica desde o século XIX e foram identificadas como uma síndrome distinta há mais de um século atrás. Foi Moody (1975) quem introduziu o termo experiências de quase-morte (EQM) para nomear esse fenômeno (GREYSON, 1998; HEIM, 1892 apud GREYSON, 2007, p. 117).
             O que de fato ocorre durante uma EQM é uma parada cardíaca, o fluxo de sangue e a absorção de oxigênio no cérebro são interrompidos. Neste instante ao visualizar o aparelho de eletroencefalograma (EEG) se vê uma linha plana, e desaparece os reflexos do tronco cerebral em cerca de 10 a 20 segundos. É preciso realizar manobras de reanimação cardiopulmonar em torno de 5 a 10 minutos ou podem ocorrer danos irreversíveis ao cérebro e consequentemente a morte. (HAESLER; BAUREGARD, 2013).  
            Segundo Fenwick (2013, p. 205) dez por cento dos pacientes com parada cardíaca têm EQM. Desses, 30% relatam ter uma experiência fora do corpo enquanto estão inconscientes e assistindo sua própria ressuscitação.
            Estudos recentes de Greyson (2007), Fenwick (2013), Haesler e Baurgard (2013) demonstraram as seguintes características da EQM: inefabilidade; anúncio de morte; sentimento de paz; ruídos; visão de um túnel; experiência fora do corpo; encontro com seres de luz; revisão da vida; relembrar vida prévia; atividade mental aguçada; maior lucidez que na vigília física ordinária; encontrar familiares e amigos falecidos; calma; ausência de dor; paisagem bucólica e sentir o retorno ao próprio corpo.
            Segundo Fenwick (2013, p. 204) qualquer acontecimento que ameace a vida pode, certamente, produzir mudança na personalidade, mas os dados indicam que aqueles que passaram pelas EQM são afetados mais positivamente pelas mudanças que aqueles que passaram por experiências similares de ameaça à vida, mas não tiveram EQM. Greyson relatou que, em 272 pacientes que tiveram um “encontro com a morte”, 61 deles (22%) tiveram EQM. Observou-se que eles estavam menos perturbados psicologicamente após a experiência que aqueles que não tiveram EQM. As principais mudanças medidas foram de ordem religiosas e sociais, com redução do medo da morte, a busca por significado pessoal, o interesse em se autocompreender e a apreciação das coisas comuns (FENWICK, 2013).
            Segundo Fenwick, (2013, p. 206) mesmo com a nossa profunda compreensão objetiva dos mecanismos cerebrais, ainda é impossível com base neles explicar a experiência subjetiva. Modelos baseados apenas nas características físicas do cérebro, que limitam a consciência ao cérebro, estão fadados ao fracasso. Novos modelos de consciência precisam incluir a mente estendida para além do cérebro. Os modelos de consciência têm se tornado altamente sofisticados. (Para uma revisão, ver The Handbook of Consciousness.) No entanto estes modelos acabam por apresentar lacunas explicativas que questionam sua validade.
            Enquanto a ciência se debate nas explicações para os fenômenos subjetivos, nós enquanto indivíduos sensatos não necessitamos esperar o consenso científico para experimentar ou mesmo vivenciar a subjetividade. Apesar da complexidade em provar os relatos advindos do fenômeno, a experiência é autocomprovada, a realidade além do concreto-material se mostra para aqueles que passam pela experiência da EQM.
            Vieira (2009, p. 49) propôs o termo Projeciologia, para nomear o estudo de diversos fenômenos de projeções conscienciais incluindo entre estes a EQM. O autor define a Projeciologia como uma ciência que trata das projeções da consciência para fora do corpo biológico. Este termo foi lançado juntamente com seu livro Projeções da Consciência: Diário de Experiências Fora do Corpo Físico lançado em 1981.
            Vieira apresenta uma alternativa para aqueles que tem curiosidade pela EQM, e que pelos riscos óbvios que a experiência apresenta torna a vivência inviável. O autor apresenta em seu livro Projeciologia panorama das experiências da consciência fora do corpo humano, mais de 30 técnicas para a própria pessoa experimentar sair do corpo com lucidez, sem riscos de morte. O autor descreve e explica como funcionam os veículos de manifestação da consciência que proporcionam o acesso a lugares semelhantes aos descritos pelos experimentadores da EQM. Vieira diz ter experimentado as técnicas por ele propostas, suas experiências pessoais renderam  artigos e livros que contribuíram com a proposição de uma nova ciência chamada Conscienciologia. Segundo Vieira (2009, p. 33) a Conscienciologia é a Ciência que trata do estudo abrangente da consciência.
            Embora a ciência proposta por Vieira não tenha reconhecimento cientifico dentro do universo acadêmico, anualmente são publicados: artigos; livros; verbetes para a construção de uma enciclopédia; são realizados cursos, congressos, simpósios e outros eventos afins. Interessados se tornam voluntários, voluntários se tornam professores, e são incentivados a fazerem pesquisas de si próprios, de forma sistemática, visando o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal, com o propósito de publicarem deixando um legado pessoal para as futuras gerações.
            As revisões bibliográficas apresentadas no presente texto tiveram o propósito de esclarecer o(a) leitor(a) com informações atualizadas advindas da ciência convencional, e apontar alternativas de pesquisas menos materialistas segundo a visão do paradigma consciencial proposto pela Conscienciologia. Conforme relatado neste artigo, as experiências pessoais transcendentes e subjetivas mudam de fato as personalidades, e  podem melhorar significativamente a qualidade de vida. Não é inteligente esperar uma experiência traumática como a EQM para expandir a visão sobre a vida e promover uma mudança positiva. Torna-se prioritário aprender e aplicar técnicas que otimizem o desenvolvimento parapsíquico do pesquisador, ampliando suas percepções a cerca das realidades extrafísicas. Enquanto a ciência evolui lentamente, nós podemos evoluir rapidamente.

REFERÊNCIAS

1. Fenwick P. As experiências de quase morte (EQM) podem contribuir para o debate sobre a consciência? Rev Psiq Clín. 2013; 40(5):203-7
2. Haesler N. T.; Beuregard M. Experiências de quase morte em parada cardiaca: implicações para o conceito de mente não local. Rev Psiq Clín. 2013;40(5):197-202
3. Greyson B. Experiências de quase morte: implicações clínicas. Rev Psiq Clín. 34, supl 1; 116-125, 2007
4. Alexander E. Uma prova do céu: a jornada de um neurocirurgião à vida após a morte.1. ed. Rio de Janeiro, 2013. 189 p.
5. Platão. A república. 3. ed. São Paulo. p. 313-317.
6. Vieira W. Projeciologia: panorama das experiências da consciência fora do corpo humano. 10. ed. Foz do Iguaçu, 2009.
7. Vieira W. Projeções da Consciência. 8. ed. Foz do Iguaçu, 2008.
8. Lufti L. Voltei para contar. 2. ed. Foz do Iguaçu, 2013.  
9. Moody R. J. Vida depois da vida. 4. ed. São Paulo, 1979.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Relato Pessoal: Auto-superação pela reavaliação intraconsciencial

Sónia Ferreira
Lisboa, Portugal

Em maio de 2001, após vários exames médicos, descobri ter desenvolvido um carcinoma ductal invasivo (cancro da mama). Durante o período anterior, durante e posterior à remoção cirúrgica do mesmo vivenciei acontecimentos que colocaram “à prova” o meu posicionamento íntimo face à vivência do paradigma consciencial na pratica. Na verdade nunca pensei que passaria por uma experiência semelhante e que repercussões intra e extrafisicas o evento iria desencadear.

O cancro caracteriza-se pelo crescimento descontrolado de células do corpo, alimentando-se de outras células e alojando-se em vários órgãos através do sistema sanguíneo e linfático. Estas mesmas células já não obedecem ao comando do sistema imunitário sendo esta patologia considerada “autoimune” (Diciopédia, Porto Editora, 2003). Até hoje a ciência convencional tenta explicar o porquê de tal comportamento, tentando desenvolver várias terapêuticas para a manifestação física da doença. Por outro lado, do ponto da pesquisa conscienciológica, as vivências estudadas apontam para o fato de que que a saúde intraconsciencial pode ser alcançada pela manifestação equilibrada dos seus pensamentos, sentimentos e emoções cuja repercussão positiva se faz sentir na saúde física como consequência e não uma causa. 

Na minha experiência do período anterior à manifestação física da doença, passei por momentos de muito stress emocional, profissional, com posicionamentos sérios no voluntariado em que participava, no entanto sempre pensei que as sensações no corpo físico estavam relacionadas com a tensão diária a que estava acostumada. Após diagnóstico médico especializado foi-me transmitido que a malignidade do carcinoma só poderia ser verificada na própria operação e em caso afirmativo teria que ser retirada a mama pelo facto de ser muito jovem (29 anos) e o risco das células cancerígenas crescerem com rapidez era elevado.

A 1ª pergunta que fiz após a cirurgia foi se tinha sido possível preservar a mama mas a resposta foi que infelizmente não. Naquele momento para minha própria surpresa interiorizei o acontecimento e pensei “bom, aconteceu, tenho que ajudar na recuperação, vou ter que me esforçar”.

A consciência e auto-imagem

Embora sendo consciências num corpo animal na realidade física onde nos manifestamos, condicionamo-nos a pensar apenas como seres sociais. Ou seja é mais difícil relembrar que somos consciências imortais, com vivências em inúmeras vidas, dentro de um corpo denso embora resistente, perecível. Mais importante do que perder o membro físico seria sobreviver pois tinha uma programação de vida a cumprir e em uma fase posterior entender com profundidade o surgimento da patologia. Outra experiência marcante foi verificar que apesar do fato de ter tido uma modificação radical no meu corpo a minha preocupação inicial foi desdramatizar a situação, principalmente junto de uma familiar próxima, que dava muita importância ao aspeto físico e que estava preocupada comigo. O desvio do foco na assistencialidade ao outro é por si próprio um ato promotor de auto-cura pois deixamos de estar centrados apenas no nosso microuniverso e de mobilizar cargas emocionais excessivas e muitas vezes despropositadas. Este processo só é possível se a consciência for verdadeira naquele momento evolutivo. Para mim foi muito importante entender esta postura e aprender com ela.

Não-vitimização (papel agressor-vitima)

A pacificação íntima surge quando abandonamos a postura de vítima. A partir daquele momento em que decidi que eu teria que estar à altura do desafio que tinha pela frente e mais ninguém, tudo à minha volta convergiu para auxiliar na recuperação. A minha preocupação maior era estar à altura do desafio daquele momento, que eu sabia que não era fácil. Evoluir é ultrapassar a barreira do que é que nos acostumamos a esperar até de nós mesmos. Maturidade é saber abdicar de posturas deslocadas e a não vitimização é uma medida profilática porque abre portas para outras fases de entendimento. Podemos ficar surpreendidos com os resultados.

Energia deslocada na recuperação – feedback retroalimentativo

Toda a tensão antes da cirurgia dissipou-se, a energia que sentia era canalizada para o exterior. As pessoas que me visitaram no hospital apareciam receosas do meu estado emocional e saíam bem-dispostas por me verem tranquila. Na prática, de forma natural, instalou-se um sistema reatroalimentativo ou seja eu transmitia sinceridade na postura pró-ativa e todos devolviam essa mesma energia o que ajudava muito na recuperação. Na semana que estive no hospital, apesar de ter ficado num quarto isolada nunca me senti sozinha. Todos estes acontecimentos deixavam-me motivada de que estaria no caminho certo, independentemente do futuro.

Análise do momento evolutivo

Os acontecimentos provocaram profunda reflexão porque embora estivesse ainda a passar fisicamente pelo pós-operatório sentia-me muito bem, cheia de energia. Percebia-me apoiada física e extrafisicamente também por consciências amparadoras (consciências com maior discernimento, fraternas, em outras dimensões) ampliando aquele momento evolutivo. Conseguia perceber que o processo era manter a lucidez e abertura para a recuperação e isso partiria do trabalho em conjunto. Neste processo um fator chave foi o fato de estar envolvida no voluntariado conscienciológico e saber da importância da teática (teoria e pratica) na vivência. Se aceitava o fato de ser mais do que o corpo físico, ser uma consciência multiexistencial (várias vidas) e multidimensional (várias dimensões) seria o momento de vivenciar na prática o conceito. Assim surgiram algumas condições vivenciadas:

- 1ª premissa da sobrevivência
- Compromisso com a auto-superação
- Assumir sem drama a doença como patologia
- Reciclagem das posturas intraconscienciais
- Pró-atividade e menos reatividade
- Racionalidade e discernimento
- Despersonalização da doença: anti-vitimização
- Estar aberto à afetividade sadia
- Evitação de comparações: cada caso é um caso
- Priorizar a reflexão e auto-pesquisa, registar as informações
- Perceber os insights das equipes de amparadores
- Ser mais fraterna com as necessidades das outras consciências

Auto-pesquisa e Hetero-pesquisa

Hoje passados 12 anos vejo que aquele momento de lucidez lá atrás trouxe-me muita informação. Iniciei uma auto-pesquisa dos meus traços pessoais, como foi a minha infância, aspetos do meu temperamento, doenças do grupocarma (família), qual o meu padrão de pensamentos diário. Nesse seguimento em 2006 elaborei um questionário de pesquisa de opinião pública com o objetivo de procurar pontos em comum com outras consciências que passaram pelo mesmo, colocando-o ao dispor num blog que criei para o efeito. Das respostas que obtive, algumas das conclusões preliminares mostraram que na generalidade todos vivenciaram momentos desafiantes do ponto de vista emocional entre 1 a 3 anos do aparecimento somático do cancro, alguns padrões de mágoa e tristeza acentuaram o processo e quase todas foram unânimes no facto de escrever a sua experiência no papel ter sido algo terapêutico em si mesmo. É meu objetivo em breve publicar o resultado dessa mesma pesquisa.


Sónia Raquel Ferreira tem 41 anos, com experiência em design gráfico e multimédia, é voluntária da conscienciologia em Portugal desde 1999 e membro da International Academy of Consciousness (IAC-Academia Internacional da Consciência).

sábado, 18 de janeiro de 2014

Coeficiente Emocional: O nosso enfoque na Psicologia

Nanci Trivellato
            Em Outubro de 1995, foi publicado um artigo no American Time Magazine que questionava, pela primeira vez, estudos relacionados com os métodos de medir a inteligência emocional (nota: hoje é possível adquirir livros sobre este assunto). Com certeza já ouviram falar do conceito chamado Q.I ou coeficiente de inteligência, que avalia o nível de capacidade intelectual da pessoa de acordo com um certo tipo de raciocínio.
            As investigações da Academia Internacional de Consciência têm como finalidade estabelecer meios para avaliar as capacidades das pessoas num nível mais geral, por outras palavras, aquilo que está para lá da capacidade intelectual, considerando todas as manifestações individuais, capacidades e desenvolvimentos, duma forma extensa, tendo até em consideração outras existências, conseguindo uma avaliação mais correta para o nível de evolução global dum indivíduo. Foi recentemente publicada a primeira edição deste exame das capacidades totais, intitulado “Conscienciograma”.
            No artigo do Time Magazine, é interessante verificar como os cientistas, mesmo os mais convencionais, chegaram à conclusão de que são precisos mais critérios para avaliar a consciência e que há outros níveis de manifestações – numa aproximação aos paradigmas científicos propostos pela Projeciologia. Estes cientistas dizem que o teste Q.I. não é suficiente para avaliar a consciência, mas só para avaliar um aspecto da consciência. Começam a compreender que a manifestação sã duma consciência não depende somente da inteligência. Como sabemos, há pessoas muito inteligentes que são mestres na concepção e realização de crimes, não tendo qualquer espécie de ética, usando a sua inteligência para fins negativos.
            De acordo com o Dr. Goleman da Universidade de Harvard, o conceito de inteligência está a começar a ser reavaliado. Isto significa que vários conceitos, que temos andado a estudar, começam a ser pesquisados e avaliados em estudos duma maneira mais geral, por todo o mundo, antecipando mudanças positivas na análise da consciência. O Dr. Goleman diz textualmente que “a consciencialidade e a lucidez são provavelmente as capacidades mais importantes do indivíduo, uma vez que permitem o exercício do autocontrolo”. Nós podemos ver a ênfase na lucidez sendo mais aplicada por investigadores de Psicologia.
            Este grupo de cientistas de várias universidades, como as de Nova York, New Hampshire e a Universidade John Hopkins, falam agora de Q.E., que é o teste do coeficiente emocional do indivíduo.
            Realizaram-se muitas experiências para se alcançar estes resultados. Por exemplo, uma delas consistia em observar as reações de crianças perante um dilema emocional. O pesquisador convida crianças, uma a uma, a entrar numa sala vazia e começa por lhes dizer que podem comer a única alteia que ali está naquele momento. Em seguida explica que, se elas esperarem enquanto ele sai para fazer uma tarefa, as crianças receberão duas alteias.
            O resultado é que algumas crianças comeram a alteia logo que o pesquisador saiu da sala. Outras comeram-na alguns minutos depois, porque se cansaram de esperar. Contudo outras esperam o tempo todo. Os estudos foram feitos alguns anos depois desta experiência inicial, e os pesquisadores esperaram que as crianças crescessem para verem como se desenvolveram ao longo da vida. Depois, chegaram à conclusão que aquelas crianças que foram capazes de esperar o tempo todo, tinham tendência para serem bem sucedidas nos seus objetivos e nos seus relacionamentos. Aquelas que facilmente desistiram, tinham uma maior tendência a sentirem-se frustradas na vida, tinham piores resultados na escola e pouca energia para realizarem os seus objetivos.
            Atualmente, o grupo de cientistas iniciou estudos para lá do controle emocional, e começam a falar sobre coisas como a sensibilidade das pessoas que percebem os estados emocionais dos outros, sem verem os indícios óbvios ou a expressão facial dos indivíduos. Com isto, desenvolveram técnicas para leitura, em pormenor, da postura corporal de alguém (para lá das expressões faciais), examinando o seu estado emocional íntimo. Sabemos que estes estudos representam um progresso positivo, dado que são um novo processo por parte da ciência convencional. Mas quando é que eles vão começar a estudar as percepções que temos sobre alguém, apesar do fato de estar longe de nós e não conseguirmos vê-la? Quando é que eles vão começar a estudar o controle sobre as energias que influenciam diretamente as nossas emoções e que às vezes nos desviam, sem razão, do nosso estado emocional normal?
            É difícil para a ciência estudar tópicos mais profundos da consciência, por causa do seu paradigma. A teoria prevalecente seguida em nossos dias pelas ciências convencionais é um modelo materialista. Este paradigma é conhecido como o paradigma Fisicalista-Newtoniano-Cartesiano, pois fundamenta-se na matéria como seu foco central.
            As investigações mais amplas e profundas da Projeciologia são possíveis pelo modelo aberto e real que ela usa, chamado Paradigma Consciencial. O Paradigma Consciencial baseia-se na consciência e nas suas manifestações como ponto central do foco científico.
            Com um conhecimento mais profundo da consciência e ao mesmo tempo a experimentação de certos fenômenos, como a projeção consciente fora do corpo, um indivíduo tem possibilidades de ampliar o seu próprio autoconhecimento, lucidez e autocontrole. As consequências deste conhecimento são positivas e contribuem para o nosso desenvolvimento.

Fonte: Site da IAC, acessado em 18/01/2014 as 19:45.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Associação de ideias e taquipsiquismo



Thiago Leite

            Pela Conscienciologia, cada ser humano é uma consciência, um princípio inteligente que não se confunde com seu corpo físico. Toda ação da consciência se dá basicamente pelo pensene, ou seja, a indissociabilidade de pensamento, sentimento e energia. Essa unidade básica da manifestação acompanha toda atividade da cosnciência, refletindo-se em todos os veículos de atuação.
            Cada indivíduo é dotado não apenas de um corpo físico, mas de vários corpos que se manifestam em diversas dimensões conscienciais e que estão em intrínseca relação mútua, repercutindo uns nos outros. Em ordem crescente de sutilidade, temos o corpo físico ou soma, manifestando-se na dimensão intrafísica; o corpo energético ou energossoma na dimensão energética (dimener); o corpo emocional ou psicossoma, manifestando-se na dimensão extrafísica; o corpo mental ou mentalsoma, atuando na dimensão mental.
            O mais sutil, evoluído e complexo dos corpos componentes do holossoma (conjunto de todos os corpos citados acima) é o mentalsoma, sede do pensamento e das atividades racionais, responsável pela organização da psique da consciência. Entre seus principais atributos, destacam-se a intelectualidade, a racionalidade, a antiemotividade, o raciocínio lógico, a associação de ideias, a visão de conjunto e a cosmoeticidade (relativa à Cosmoética, ética mais evoluída do que a moral humana).
            Observa-se que o cultivo dos atributos mentaissomáticos propicia um maior desenvolvimento da atuação da consciência em todos os níveis de sua existência. Ao nos aprofundarmos em estudos e pesquisas, desenvolvemos maior conhecimento não só do mundo ao nosso redor, mas principalmente de nós mesmos (toda pesquisa é também autopesquisa). Quando procuramos exercitar nossa capacidade de tomar decisões, considerando todas as consciências e todos os parâmetros envolvidos, conseguimos alcançar um nível maior de visão de conjunto e de Cosmoética.
            O conhecimento produzido pela humanidade está hoje muito mais acessível do que nas épocas anteriores da História humana. Para quem tem acesso a livros, revistas e à internet, é extremamente fácil encontrar saberes de qualquer área e qualquer assunto, seja Literatura, Religião, Filosofia, Ciência (em suas mais variadas disciplinas) ou conhecimentos gerais. Isso significa que o cultivo da erudição está muito mais otimizado nos dias atuais.
            Essa facilidade nos possibilita desenvolver um conjunto complexo de conhecimentos e abranger uma grande quantidade de informações úteis. Porém, mais importante do que armazenar informações em nossa holomemória (memória integral do mentalsoma) é saber criar associações entre essas informações, produzindo novos conhecimentos e formas práticas de aplicá-los. Sem as associações de ideias, não teria sido possível a Charles Darwin criar sua teoria da seleção natural, baseada na observação de uma multiplicidade de fenômenos da natureza.
            Para o sociólogo alemão Max Weber, é necessário muito trabalho de pesquisa antes de se ter uma ideia original. O momento em que os dados se somam sinergicamente e formam novas informações é o que normalmente chamamos de insight. Quanto mais informações acumulamos e quanto mais exercitamos a associação de ideias, mais sujeitos estamos a experimentar os insights.
            O desenvolvimento da capacidade de associar ideias possibilita a elaboração mais rápida dos nossos pensamentos e, dessa forma, conseguimos chegar mais rapidamente às soluções dos problemas com que nos deparamos, tanto no nosso dia a dia quanto em nossa autopesquisa científica. Nossa manifestação pode se tornar mais assertiva, pois esse processo implica naquilo que em Conscienciologia se chama retilinearidade pensência, ou seja, a capacidade de a consciência não se dispersar em seus pensenes, passando de um ao outro sem rodeios, indo de um ponto ao outro através do menor percurso (a menor distância entre dois pontos é a reta).
            A retilinearidade pensênica nos permite exercer uma manifestação mais dinâmica. Através do seu desenvolvimento, podemos chegar a outro atributo mentalsomático importante, o taquipsiquismo, ou seja, a rapidez de pensamento, o poder de diminuir significativamente o caminho entre duas ou mais ideias, entre o problema e a solução.
O taquipsiquismo desenvolvido pode ser considerado um trafor (traço-força), uma qualidade da consciência que lhe permite otimizar sua autopesquisa e tomar decisões assertivas, aproveitando melhor o timing das oportunidades, sejam estas favoráveis ao nosso autoaprimoramento ou situações em que podemos ajudar outras consciências, permitindo-nos acelerar nosso processo evolutivo pessoal e grupal.
            Você, leitora ou leitor, busca desenvolver sua erudição e as associações de ideias? Já experimentou súbitos insights e ideias originais? Utiliza seus atributos mentais para dinamizar sua evolução, ajudando o maior número de pessoas?

Thiago Leite é Voluntário do INTERCAMPI em Natal