Lisboa,
Portugal
Em maio de 2001,
após vários exames médicos, descobri ter desenvolvido um carcinoma ductal
invasivo (cancro da mama). Durante o período anterior, durante e posterior à
remoção cirúrgica do mesmo vivenciei acontecimentos que colocaram “à prova” o
meu posicionamento íntimo face à vivência do paradigma consciencial na pratica.
Na verdade nunca pensei que passaria por uma experiência semelhante e que
repercussões intra e extrafisicas o evento iria desencadear.
O
cancro caracteriza-se pelo crescimento descontrolado de células do corpo,
alimentando-se de outras células e alojando-se em vários órgãos através do
sistema sanguíneo e linfático. Estas mesmas células já não obedecem ao comando
do sistema imunitário sendo esta patologia considerada “autoimune” (Diciopédia,
Porto Editora, 2003). Até hoje a ciência convencional tenta explicar o porquê
de tal comportamento, tentando desenvolver várias terapêuticas para a
manifestação física da doença. Por outro lado, do ponto da pesquisa
conscienciológica, as vivências estudadas apontam para o fato de que que a
saúde intraconsciencial pode ser alcançada pela manifestação equilibrada dos
seus pensamentos, sentimentos e emoções cuja repercussão positiva se faz sentir
na saúde física como consequência e não uma causa.
Na
minha experiência do período anterior à manifestação física da doença, passei
por momentos de muito stress emocional, profissional, com posicionamentos
sérios no voluntariado em que participava, no entanto sempre pensei que as
sensações no corpo físico estavam relacionadas com a tensão diária a que estava
acostumada. Após diagnóstico médico especializado foi-me transmitido que a
malignidade do carcinoma só poderia ser verificada na própria operação e em
caso afirmativo teria que ser retirada a mama pelo facto de ser muito jovem (29
anos) e o risco das células cancerígenas crescerem com rapidez era elevado.
A
1ª pergunta que fiz após a cirurgia foi se tinha sido possível preservar a mama
mas a resposta foi que infelizmente não. Naquele momento para minha própria
surpresa interiorizei o acontecimento e pensei “bom, aconteceu, tenho que
ajudar na recuperação, vou ter que me esforçar”.
A
consciência e auto-imagem
Embora
sendo consciências num corpo animal na realidade física onde nos manifestamos,
condicionamo-nos a pensar apenas como seres sociais. Ou seja é mais difícil
relembrar que somos consciências imortais, com vivências em inúmeras vidas,
dentro de um corpo denso embora resistente, perecível. Mais importante do que
perder o membro físico seria sobreviver pois tinha uma programação de vida a
cumprir e em uma fase posterior entender com profundidade o surgimento da
patologia. Outra experiência marcante foi verificar que apesar do fato de ter
tido uma modificação radical no meu corpo a minha preocupação inicial foi
desdramatizar a situação, principalmente junto de uma familiar próxima, que
dava muita importância ao aspeto físico e que estava preocupada comigo. O
desvio do foco na assistencialidade ao outro é por si próprio um ato promotor
de auto-cura pois deixamos de estar centrados apenas no nosso microuniverso e
de mobilizar cargas emocionais excessivas e muitas vezes despropositadas. Este
processo só é possível se a consciência for verdadeira naquele momento
evolutivo. Para mim foi muito importante entender esta postura e aprender com
ela.
Não-vitimização
(papel agressor-vitima)
A
pacificação íntima surge quando abandonamos a postura de vítima. A partir
daquele momento em que decidi que eu teria que estar à altura do desafio que
tinha pela frente e mais ninguém, tudo à minha volta convergiu para auxiliar na
recuperação. A minha preocupação maior era estar à altura do desafio daquele
momento, que eu sabia que não era fácil. Evoluir é ultrapassar a barreira do
que é que nos acostumamos a esperar até de nós mesmos. Maturidade é saber
abdicar de posturas deslocadas e a não vitimização é uma medida profilática
porque abre portas para outras fases de entendimento. Podemos ficar
surpreendidos com os resultados.
Energia
deslocada na recuperação – feedback retroalimentativo
Toda
a tensão antes da cirurgia dissipou-se, a energia que sentia era canalizada
para o exterior. As pessoas que me visitaram no hospital apareciam receosas do
meu estado emocional e saíam bem-dispostas por me verem tranquila. Na prática,
de forma natural, instalou-se um sistema reatroalimentativo ou seja eu transmitia
sinceridade na postura pró-ativa e todos devolviam essa mesma energia o que
ajudava muito na recuperação. Na semana que estive no hospital, apesar de ter
ficado num quarto isolada nunca me senti sozinha. Todos estes acontecimentos
deixavam-me motivada de que estaria no caminho certo, independentemente do
futuro.
Análise
do momento evolutivo
Os
acontecimentos provocaram profunda reflexão porque embora estivesse ainda a
passar fisicamente pelo pós-operatório sentia-me muito bem, cheia de energia.
Percebia-me apoiada física e extrafisicamente também por consciências
amparadoras (consciências com maior discernimento, fraternas, em outras
dimensões) ampliando aquele momento evolutivo. Conseguia perceber que o
processo era manter a lucidez e abertura para a recuperação e isso partiria do
trabalho em conjunto. Neste processo um fator chave foi o fato de estar
envolvida no voluntariado conscienciológico e saber da importância da teática
(teoria e pratica) na vivência. Se aceitava o fato de ser mais do que o corpo
físico, ser uma consciência multiexistencial (várias vidas) e multidimensional
(várias dimensões) seria o momento de vivenciar na prática o conceito. Assim
surgiram algumas condições vivenciadas:
- 1ª
premissa da sobrevivência
- Compromisso com a auto-superação
- Assumir sem drama a doença como patologia
- Reciclagem das posturas intraconscienciais
- Pró-atividade e menos reatividade
- Racionalidade e discernimento
- Despersonalização da doença: anti-vitimização
- Estar aberto à afetividade sadia
- Evitação de comparações: cada caso é um caso
- Priorizar a reflexão e auto-pesquisa, registar as informações
- Perceber os insights das equipes de amparadores
- Ser mais fraterna com as necessidades das outras consciências
Auto-pesquisa e Hetero-pesquisa
- Compromisso com a auto-superação
- Assumir sem drama a doença como patologia
- Reciclagem das posturas intraconscienciais
- Pró-atividade e menos reatividade
- Racionalidade e discernimento
- Despersonalização da doença: anti-vitimização
- Estar aberto à afetividade sadia
- Evitação de comparações: cada caso é um caso
- Priorizar a reflexão e auto-pesquisa, registar as informações
- Perceber os insights das equipes de amparadores
- Ser mais fraterna com as necessidades das outras consciências
Auto-pesquisa e Hetero-pesquisa
Hoje
passados 12 anos vejo que aquele momento de lucidez lá atrás trouxe-me muita informação.
Iniciei uma auto-pesquisa dos meus traços pessoais, como foi a minha infância,
aspetos do meu temperamento, doenças do grupocarma (família), qual o meu padrão
de pensamentos diário. Nesse seguimento em 2006 elaborei um questionário de
pesquisa de opinião pública com o objetivo de procurar pontos em comum com
outras consciências que passaram pelo mesmo, colocando-o ao dispor num blog que
criei para o efeito. Das respostas que obtive, algumas das conclusões
preliminares mostraram que na generalidade todos vivenciaram momentos
desafiantes do ponto de vista emocional entre 1 a 3 anos do aparecimento
somático do cancro, alguns padrões de mágoa e tristeza acentuaram o processo e
quase todas foram unânimes no facto de escrever a sua experiência no papel ter
sido algo terapêutico em si mesmo. É meu objetivo em breve publicar o resultado
dessa mesma pesquisa.
Sónia
Raquel Ferreira tem 41 anos, com experiência em design gráfico e multimédia, é
voluntária da conscienciologia em Portugal desde 1999 e membro da International
Academy of Consciousness (IAC-Academia Internacional da Consciência).
Fonte: Site da IAC acessado em 12/02/14 as 10:00 hs. http://iacblog-portuguese.blogspot.com.br/2013/08/relato-pessoal-auto-superacao-pela.html