Antes de qualquer coisa caro leitor(a), sugiro uma reflexão para que realmente haja uma relação com este autor neste texto. Considere isto uma
forma prática de entrar no complexo mundo das relações interpessoais. Por favor caro
leitor, neste instante pergunte a si mesmo: Quero
neste momento, dedicar o máximo de atenção que eu puder para compreender precisamente
o que significa para esta pessoa o que ela quer me dizer? Note que a pergunta não se preocupa com o que o outro tem
para dizer no sentido do conteúdo, e sim faz referência a pessoa que vai expressar. Se prestarmos
atenção apenas no que é falado, ou na informação que as pessoas nos comunicam
nossa relação fica superficial demais para que possamos sentir crescer um
vínculo com o outro, desta forma mesmo que falemos com muitas pessoas ao longo
do dia provavelmente vamos acabar nos sentindo muito sozinhos.
Vamos explorar um pouco mais a pergunta feita no inicio deste texto, com
a palavra quero, não dou margem a
nenhuma inautenticidade da minha parte, se eu realmente quero isto é uma escolha que fiz, como cada escolha é uma renúncia,
neste momento é decidido deixar de lado todas as outras possibilidades, eu paro
o que estou fazendo então ouço o outro. O querer envolve manter e sustentar a
vontade de dedicar a atenção no outro até que se cumpra o objetivo ao qual se
propôs, lembra qual era? Compreender precisamente
o que significa para esta pessoa o que ela quer me dizer.
Note também que a pergunta continha duas palavrinhas muito importantes: neste momento, se não houver tempo
disponível, embora se queira dedicar a atenção na compreensão do outro, então
marque outra hora ou outro dia mas não se relacione com o outro as pressas,
ainda mais sem saber a importância e a dimensão da conversa que o outro quer
ter contigo.
Agora vamos analisar nesta pergunta que fizemos a nós mesmos, o que
significa compreender? Compreender não é dar direções dizendo
como o outro poderia ou deveria agir, não é interpretar o que o outro quer
dizer tentando dizer ao outro como representar a situação, não é tranquilizar,
apaziguar ou aliviar o outro, e obviamente não é uma entrevista em que se busca
dados e mais dados, e certamente não estamos falando de avaliações, rotulações
ou julgamentos. Compreender tem a ver
com o sentimento nos bastidores da fala do outro, tem a ver com significados e
intenções que não temos acesso de imediato, a não ser que realmente busquemos
com um genuíno interesse pelo outro descobrir quais são. Estes pensamentos,
sentimentos, intenções e significações tão particulares que num dado momento se
tornaram uma fala e que o outro nos escolheu como ouvinte, será que percebemos a
importância que temos aqui-agora para esta pessoa? Essas coisas que são ditas, que parecem
tão ruins para ela, tão frágeis, sentimentais, irônicas, bizarras, cômicas,
trágicas ou sem sentido e desconexas, podemos precisamente ver como esta
pessoa as vê e as percebe enquanto nos fala? Mais ainda, aceitamos o que ele(a) nos diz buscando colocar-nos no lugar desta pessoa? Enquanto a ouço o desejo de
continuar ouvindo se mantém ou nos voltamos para nós mesmos e devaneamos em pensamentos particulares?
Toda esta análise feita
até aqui, se resume em consideração e apreço pelo outro. Quanto maior for nossa
disposição para ouvir, mais significativo e enriquecedor será nossas relações
interpessoais. A relação ao qual me refiro não leva em conta o papel representado naquele contexto e naquele momento, ou seja não importa a
hierarquia, se é uma conversa de pai para filho, de empregado para patrão, de
cliente para vendedor, médico e paciente etc. As pessoas que experimentam uma conversa
de pessoa para pessoa, em que ambas sentem uma conexão e um encontro real,
experimentam também um sentimento libertador, um espaço seguro, a relação
aprofunda a confiança e as defesas caem. Uma relação baseada nestas
características propiciam uma experiência de ser o que se é de forma natural e
sem fachadas, é libertador poder conversar com pessoas num nível em que elas
não tem receio de mostrar quem elas são conosco, ter intimidade, e descobrir
muito de nós mesmos em cada pessoa.
Muitas vezes o que o
outro nos diz pode não ter aparentemente nenhum conteúdo mais íntimo e pessoal. É do nosso interesse buscar aprofundar a conversa, e há recursos que podemos
utilizar, por exemplo parafrasear o que é dito repetindo brevemente o que acaba
de ser dito para confirmar se estamos acompanhando o raciocínio. Podemos
resumir o que o outro disse com nossas próprias palavras e se certificar com o
outro se era isto mesmo que queria falar. Também com a receptividade no ouvir,
poder intervir dependendo do conteúdo expresso fazer o outro voltar-se para si
perguntando como é que ele se sentiu quando tal fato ocorreu, como foi viver esta
experiência, valorizar a experiência é um bom modo de aproximar-se mais e mais,
também podemos sentir que nos perdemos na conversa e pedir que repita, que nos
esclareça melhor em alguns pontos. Todas estas formas de manter o interesse
ajudam na compreensão e incentivam o outro a nos fornecer dados que ultrapassam
a camada superficial da objetividade e passam a comunicar num nível mais
subjetivo.
Relacionar-se envolve
disposição, tentativa, erro, e treino, mas é algo que nunca vamos deixar de
fazer em nossas vidas, então porque não fazer com que essas relações tenham
valor para nós e para os outros? Este autor agradece pelo tempo dedicado e o interesse
do leitor que pode acompanhar a leitura até aqui, que nossas relações com os outros cresçam em
níveis de intimidade cada vez maiores, e que possamos transformar a nós mesmos em bons ouvintes, que no nosso modo de ser com os outros possamos conviver melhor a cada momento
em cada lugar com cada pessoa.
Referências bibliográficas
Rogers, C. R. (1997)Tornar-se
Pessoa. São Paulo: Martins Fontes.