Leuzene
Salgues
Muitas pessoas apresentam dificuldades em lidar com
situações de conflito e ficam sem saber como agir diante delas. Algumas
permanecem inertes, outras se contaminam com o padrão de discórdia e tomam
partido de alguém, e poucas agem no sentido de auxiliar na resolução do
conflito instalado.
Para que possamos lidar melhor com esse tipo de contexto
é preciso refletir qual é a nossa postura diante dos nossos próprios conflitos,
como, por exemplo, os relacionados à própria aparência, ao modo de se
relacionar com as pessoas, às responsabilidades profissionais, à afetividade,
ao dinheiro, à aquisição de conhecimentos, entre outros.
Em auxílio à identificação e reeducação dos aspectos
imaturos que geram os conflitos pessoais, a Conscienciologia propõe a
autopesquisa como estratégia de autoconhecimento. Para tanto, a consciência
interessada há de construir estratégias pessoais de autoinvestigação,
acompanhamento e registro de todos os desconfortos que sentir, estejam eles
relacionados a si, a outros ou aos contextos nos quais se manifestam.
A análise dos registros pessoais irá contribuir para a
elaboração do autodiagnóstico, ou seja, a identificação dos aspectos que geram
conflito e o motivo pelo qual os desconfortos existem. A partir disso, é
possível levantar as autoprescrições, estratégias de autoenfrentamento rumo à
superação dos desconfortos identificados.
Por exemplo, o conflito
com a aparência geralmente está relacionado à baixa de autoestima, necessidade
de aceitação social ou submissão aos padrões de beleza das modelos e artistas
famosas e bem sucedidas. Para resolver o conflito, quando possível, busca-se a
transformação da aparência ou investe-se na autoaceitação e na valorização
pessoal a partir de atributos que não sejam apenas os estéticos.
No caso do conflito com algo ou alguém, o foco não deve
ser em querer fugir, evitar ou mudar o que causa o desconforto, mas a análise
dos sentimentos e pensamentos que surgem diante da situação ou objeto
indesejado. Por exemplo, quando não sabemos bem o motivo de não simpatizarmos
com alguém, precisamos analisar o que sentimos e pensamos quando nos
encontramos com essa pessoa. É preciso encontrar a solução em nós e na maneira
de superar o antagonismo ao invés de querer que o outro mude, porque o desafio
maior do conflito interpessoal é a aceitação das diferenças.
Algumas questões que ajudam no autodiagnóstico: tem
fundamento o que eu estou sentindo? Estou sendo preconceituoso(a)? Eu consigo
enxergar, no mínimo, três valores nessa pessoa? O que de fato me desagrada
nela? Há algo nela que eu gostaria de ter e não tenho? Há algo nela que eu
tenho e não gosto de ter? O que posso fazer para não me sentir assim?
Muitas vezes, a pessoa alvo de nosso desconforto nem
sonha que é objeto de conflito de alguém, por isso, o processo de mudança
precisa ser na maneira de enxergá-la, sem antagonismos. Aceitar as diferenças
não significa concordar com o outro ou ter que mudar de opinião, mas reconhecer
que o outro tem o direito de ser diferente de você.
No caso da convivialidade, ao modo do ambiente familiar
ou de trabalho, nos quais passamos muitas horas e há objetivos comuns entre as
pessoas, é imprescindível recorrer à resolução dos conflitos pela negociação,
que tem como ferramenta o diálogo franco e sincero, colocando os objetivos
comuns acima dos interesses pessoais ou imposição da vontade ou do poder de um
sobre o outro. No entanto, para que haja a superação do conflito, todos os
envolvidos precisam querer a resolução do mesmo.
Às vezes, a negociação fica comprometida ou torna-se
inviável em função dos sentimentos de hostilidade entre as partes envolvidas no
conflito. Nessas situações, e se as partes desejarem, é possível recorrer à
mediação, ou seja, escolher alguém para mediar o conflito. O mediador precisa
ser imparcial e ético para não se envolver emocionalmente com alguma das partes
e ser tendencioso na mediação.
O autoconhecimento auxilia na atuação dos mediadores e os
ajuda a reconhecer, pela experiência pessoal, o esforço necessário à
autorreflexão e ao abrir mão de algo em prol do bem comum. Desse modo, o
mediador autopesquisador atua imparcialmente, oportunizando vez e voz a todos e
contribuindo no aprofundamento das reflexões e na busca da melhor solução que
os próprios dialogantes precisam encontrar.
Leuzene Salgues é
pedagoga, também pesquisadora e voluntaria da Intercampi.
Fonte: Site da Intercampi,
postado em 23/setembro de 2009.