Em períodos de grandes festividades sociais há a
valorização de sentimentos elevados, ao modo do fraternismo e respeito para com
nossos semelhantes, principalmente, durante as festas de fim de ano. Esse
movimento cíclico de esperança e desejo de renovação funcionam como um
aconchego emocional e antídoto às desavenças, contribuindo, também, para a
minimização de antagonismo entre as consciências. Tenha esse período um enfoque
religioso ou não, ele permite a cada consciência a oportunidade de realizar um
balanço de sua vida e de implementar mudanças, fazer e realizar planos no ano
que se inicia.
A necessidade de aconchego emocional é bastante explorada
pelos meios de comunicação nessa época, pelo estímulo à demonstração de afeto
por presentes e, principalmente, para a promoção do aumento das vendas. Apesar
do interesse comercial, esse holopensene (conjunto de pensamentos, sentimentos
e energias) contribui para o despertar de um olhar de solidariedade entre os
povos.
Ser solidário é diferente de ser altruísta. A
solidariedade é o sentimento de simpatia ou piedade pelos que sofrem ou o ato
de cooperar com alguém necessitado. O altruísmo é a doação de si mesmo, com
afeição sincera, aos outros, componente essencial para a assistencialidade
fraterna, sem ganhos ou proveitos pessoais.
Por ser o final do ano um momento festivo construído
socialmente, ele é efêmero, ou seja, para muitas pessoas, passadas as
festividades, elas já não alimentam o sentimento de solidariedade pelos outros,
o desejo de ajudar vai se esvaindo, o foco volta-se para si próprio e para a
realização dos anseios pessoais. Por que é tão difícil nutrir um sentimento de
fraternismo o tempo todo em nossas vidas? Quantas vezes perdemos a paciência
com o outro? Como não deixar que esses sentimentos sejam fugazes? Como
vivenciar o fraternismo, além das diferenças religiosas, sociais, culturais e
éticas?
A ocasião é uma grande oportunidade de realizar um
balanço de nossas verdadeiras ações de solidariedade, de fortalecimento de
propósitos e reorganização do altruísmo em ação. Há muito a fazer por nós
mesmos, pelos outros e pelo planeta.
É preciso maturidade para abraçar as ações que visam
esclarecer e contribuir para a reeducação consciencial, abrindo mão das tarefas
da consolação, do foco restrito ao suprimento das necessidades básicas. Esse é
o desafio da consciência que se propõe a contribuir, com fraternismo, para o
desenvolvimento do discernimento alheio.
O nível de maturidade que a consciência possui independe
da maturidade biológica. É fruto do somatório de experiências vivenciadas em
todas as suas existências, ao longo de sua holobiografia. Cada um de nós tem
uma holobiografia, com especificidades que foram moldando quem nós somos. Por
isso, nossas necessidades evolutivas são pessoais e intransferíveis.
Não há como evoluir pelo outro. Com a heteroajuda
fraterna, cada um pode buscar dinamizar o próprio amadurecimento e desenvolver
o seu discernimento, a sua capacidade de avaliar as coisas com bom senso e
clareza.
Para a Conscienciologia o melhor discernimento é
compreender o que é prioritário para a própria evolução. Ela propõe a
autopesquisa como ferramenta imprescindível ao autoconhecimento. A
autoinvestigação auxilia na identificação dos traços imaturos e egoicos,
verdadeiros impeditivos da vivência do altruísmo e do fraternismo.
A vivência de diversas situações que requeiram o
acolhimento às diferenças e singularidades alheias irá contribuir para as
reflexões e para a compreensão da dinâmica evolutiva que, embora singular a
cada consciência, implica em parâmetros universais, tais como: universalismo,
cosmoética e maxifraternismo.
Só seremos maxifraternos quando atingirmos o ápice da
maturidade consciencial, fruto da vivência cosmoética, ética do cosmos, além da
moral e ética de cada grupo ou sociedade, que nos permite, realmente, a
vivência e compreensão de uma postura universalista.
Enquanto não atingimos esse patamar, cabe a cada
interessado o desafio de se autopesquisar e de observar as reações, sentimentos
e pensamentos que manifesta nas situações de encontros e relacionamentos
interconscienciais, investigando e descobrindo o quanto, ainda, precisa
amadurecer para, de fato, ser fraterno com o seu interlocutor, seja ele quem
for.
Leuzene Salgues é
pedagora, pesquisadora e voluntária da Intercampi.
Fonte: Site da Intercampi,
postado em 31/Dezembro de 2009.
http://intercampi.org/2009/12/31/artigo-amadurecer-para-vivenciar-o-fraternismo/
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