domingo, 17 de fevereiro de 2013

Dissonância cognitiva e autoconhecimento


Leuzene Salgues
            A teoria da dissonância cognitiva foi proposta pelo Professor Leon Festinger, na década de 50, para ilustrar a maneira como lidamos com as nossas incoerências e o desconforto psicológico que elas produzem. A tendência inicial é a pessoa incoerente buscar explicações, justificativas e racionalizações para o seu comportamento.
            Um exemplo é o fumante que sabe de todos os prejuízos que o fumo acarreta e continua a fumar. Justifica o tamanho prazer que o ato de fumar lhe causa, debocha das possibilidades de perigo à saúde ante a vulnerabilidade da própria vida ou comenta que engordará se deixar de fumar.
            Vale salientar que as pessoas nem sempre são bem sucedidas em suas tentativas de explicações e racionalizações a que recorrem para eliminar as incoerências internas. Ao fracassar nas justificativas pessoais, a incoerência continua a existir e a denúncia dessa situação acarreta um grande desconforto psicológico.
            Para Festinger, há duas hipóteses básicas. A primeira é que a existência da incoerência ou dissonância cognitiva e o incômodo psicológico que ela provoca motivam a pessoa a procurar reduzí-la na busca de realizar coerência ou consonância. E a segunda é que, quando a dissonância se manifesta, a pessoa, além de procurar reduzí-la, evita situações e informações que possam aumentar o nível de dissonância.
            Uma questão é essencial: por que as pessoas continuam apresentando dissonâncias cognitivas, fazendo coisas que não se ajustam ao que elas já sabem, ou mantendo opiniões que não coadunam com outras, expressas por elas mesmas?
            No cotidiano, as dissonâncias podem ocorrer por simples falta de informação ou conhecimentos atualizados sobre algo. Elas podem ocorrer por inconsistência lógica, por hábitos culturais, quando se impõe formar uma opinião sobre algo, tomar uma decisão ou por experiências passadas. O problema a investigar é quando a dissonância e o desconforto que ela acarreta persistem.
            Para a Conscienciologia, essa situação ilustra o processo do autoengano, autocorrupção ou autossabotagem que mantém a consciência ‘protegida’ de um possível autoenfrentamento, ante os desconfortos que a incoerência lhe acarreta. Isso ocorre, muitas vezes, pela recusa ao reconhecimento em si do comportamento incoerente manifesto, como modo de preservar a autoimagem distorcida, construída de si. Noutras vezes, pela dificuldade em ‘abrir mão’ dos ganhos secundários que a postura incoerente proporciona.
            O processo de autocorrupção contribui para a manutenção da estagnação da consciência em relação ao seu processo evolutivo por não conseguir utilizar o corpo mental (mentalsoma) na aplicação do discernimento, da capacidade de discernir aquilo que realmente é útil para a sua evolução consciencial.
            No processo reflexivo e mentalsomático dos desconfortos que a incoerência provoca é imprescindível uma análise sem exacerbações emocionais, que favoreçam: as ponderações ante a situação decisória; o levantamento dos prós e contras evolutivos; o reconhecimento dos ganhos secundários mantenedores das incoerências; a identificação das carências pessoais e dos traços pessoais maduros, imaturos e faltantes, dentre outros.
            A autopesquisa, o desenvolvimento bioenergético e a manifestação consciencial em outras dimensões, pela projeção consciente, proporcionam o autoconhecimento e favorecem à consciência interessada a obtenção e manutenção de uma maior coerência e consonância com a sua realidade consciencial.
Leuzene Salgues é pedagoga, pesquisadora e voluntária da Conscienciologia.

Fonte: Site da Intercampi, postada em 18/março de 2010.
http://intercampi.org/2010/03/18/artigo-dissonancia-cognitiva-e-autoconhecimento/

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