sábado, 2 de fevereiro de 2013

Autoconhecimento: Atitude na superação do egocentrismo


Ana de Sena
            A realidade indica que a espécie humana é a única existente no planeta Terra capaz de superar suas próprias limitações de forma consciente. Um exemplo disso é quando observamos a natureza. Podemos perceber que os vegetais se desenvolvem pela energia que os anima (nascem, crescem, se reproduzem e morrem). Já os animais irracionais apresentam algo além do corpo animado pela energia. Expressam atitudes instintivas, provocadas por emoções (quando se sentem ameaçados, atacam; quando se sentem acolhidos, afagam). No ser humano, podemos ver um corpo (soma) movido pela energia vital, como nos vegetais, e a instintividade dinamizada pela emoção, identificada nos animais irracionais. No entanto ele raciocina. Ou seja, é capaz de conhecer-se, através da reflexão sobre suas ações, e de autossuperar-se pela vontade decidida, ao perceber traços pessoais que requerem superação.
            Mesmo assim, no cotidiano, fatos indicam que as relações violentas cresceram ao ponto de que as ações, até então encaminhadas para inibi-las, assim como a educação viabilizada na sociedade, ainda não surtiram o efeito desejado para uma convivialidade pacífica. Talvez porque ainda não nos disponibilizamos a superar nosso processo egocêntrico, que está presente na sociedade atual.
            Você já pensou que a existência humana neste planeta tem a finalidade de aprendermos uns com os outros? Que nossa evolução, na condição de consciência, depende do nível de assistência contida em nossas ações? E que a qualificação destas depende da qualificação dos nossos pensenes (pensamento + sentimento + energia)? Como podemos, então, alcançar uma convivialidade sadia mantendo nossos traços egocêntricos?
            Importa lembrar que a pessoa egocêntrica acha que o mundo roda em torno de si. Na infância, diferente da vida adulta, o egocentrismo aparece de forma saudável, pois a criança se encontra em desenvolvimento.
            Conforme Vygotsky (1896-1934), pensador pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida, é na fase inicial do desenvolvimento da linguagem que a criança pode superar essa fase egocêntrica e formular seu próprio pensamento, assim como se torna capaz de compreender a fala dos outros.
            Porém, quando a criança não consegue superar essa fase na infância, levando-a para a fase adulta, o seu relacionamento social se torna patológico. Este comportamento acontece quando a pessoa espera que os outros ajam de acordo com suas expectativas, mas não enxerga os mesmos verdadeiramente, pois lhe falta coragem para reconhecer as próprias limitações. A falta de autoconhecimento a impede de evoluir.
            Outros pensadores, Platão (427 a.c.-399 a.c), Spinosa (1632-1677), Freud (1856-1939) e Morin (1921-), consideram o autoconhecimento como uma conquista que traz saúde e liberdade para a pessoa. Assim, o autoconhecimento pode ser uma realização que requer cuidado, e não algo dado à pessoa que não está interessada em evoluir.
            A experiência indica que para nos autoconhecermos precisamos de disciplina para refletir e interpretar nossas próprias ações e reações. Isto sugere a necessidade de aprendermos a fazer autopesquisa (uma reflexão cuidadosa sobre as experiências pessoais vivenciadas), para compreender a relação dos nossos pensenes (pensamentos, sentimentos e energias) e agir sobre eles.
            A Conscienciologia é a ciência da consciência, sendo a autopesquisa uma das formas de adquirir o autoconhecimento. Assim, quando nos disponibilizamos a realizar a autoinvestigação, podemos identificar os nossos trafares (traços fardos, imaturos) e trafores (traços fortes, maduros) e nos posicionar pela superação do próprio egocentrismo.
            Isto acontece quando, pela vontade decidida, nos lançamos em busca da superação do apego excessivo a nós mesmos e saímos da zona de conforto em prol de mudanças íntimas. Esse movimento contribui para ultrapassar o egocentrismo rumo à postura cosmoética (neologismo da Conscienciologia que significa uma ética do cosmos que visa o melhor para todos, além da ética de cada sociedade), nos possibilitando a pacificação íntima, uma condição necessária para minimização da violência no contexto multidimensional.
Ana de Sena é professora, assistente social e voluntária na Intercampi.

Fonte: Site da Intercampi postado em 14/janeiro de 2010.
http://intercampi.org/2010/01/14/artigo-autoconhecimento-atitude-na-superacao-do-egocentrismo/

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