Ana
de Sena
A realidade indica que a espécie humana é a única
existente no planeta Terra capaz de superar suas próprias limitações de forma
consciente. Um exemplo disso é quando observamos a natureza. Podemos perceber
que os vegetais se desenvolvem pela energia que os anima (nascem, crescem, se
reproduzem e morrem). Já os animais irracionais apresentam algo além do corpo
animado pela energia. Expressam atitudes instintivas, provocadas por emoções
(quando se sentem ameaçados, atacam; quando se sentem acolhidos, afagam). No
ser humano, podemos ver um corpo (soma) movido pela energia vital, como nos
vegetais, e a instintividade dinamizada pela emoção, identificada nos animais
irracionais. No entanto ele raciocina. Ou seja, é capaz de conhecer-se, através
da reflexão sobre suas ações, e de autossuperar-se pela vontade decidida, ao
perceber traços pessoais que requerem superação.
Mesmo assim, no cotidiano, fatos indicam que as relações
violentas cresceram ao ponto de que as ações, até então encaminhadas para
inibi-las, assim como a educação viabilizada na sociedade, ainda não surtiram o
efeito desejado para uma convivialidade pacífica. Talvez porque ainda não nos
disponibilizamos a superar nosso processo egocêntrico, que está presente na
sociedade atual.
Você já pensou que a existência humana neste planeta tem
a finalidade de aprendermos uns com os outros? Que nossa evolução, na condição
de consciência, depende do nível de assistência contida em nossas ações? E que
a qualificação destas depende da qualificação dos nossos pensenes (pensamento +
sentimento + energia)? Como podemos, então, alcançar uma convivialidade sadia
mantendo nossos traços egocêntricos?
Importa lembrar que a pessoa egocêntrica acha que o mundo
roda em torno de si. Na infância, diferente da vida adulta, o egocentrismo
aparece de forma saudável, pois a criança se encontra em desenvolvimento.
Conforme Vygotsky (1896-1934), pensador pioneiro na noção
de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das
interações sociais e condições de vida, é na fase inicial do desenvolvimento da
linguagem que a criança pode superar essa fase egocêntrica e formular seu
próprio pensamento, assim como se torna capaz de compreender a fala dos outros.
Porém, quando a criança não consegue superar essa fase na
infância, levando-a para a fase adulta, o seu relacionamento social se torna
patológico. Este comportamento acontece quando a pessoa espera que os outros
ajam de acordo com suas expectativas, mas não enxerga os mesmos
verdadeiramente, pois lhe falta coragem para reconhecer as próprias limitações.
A falta de autoconhecimento a impede de evoluir.
Outros pensadores, Platão (427 a.c.-399 a.c), Spinosa
(1632-1677), Freud (1856-1939) e Morin (1921-), consideram o autoconhecimento
como uma conquista que traz saúde e liberdade para a pessoa. Assim, o
autoconhecimento pode ser uma realização que requer cuidado, e não algo dado à pessoa que não está
interessada em evoluir.
A experiência indica que para nos autoconhecermos
precisamos de disciplina para refletir e interpretar nossas próprias ações e
reações. Isto sugere a necessidade de aprendermos a fazer autopesquisa (uma
reflexão cuidadosa sobre as experiências pessoais vivenciadas), para
compreender a relação dos nossos pensenes (pensamentos, sentimentos e energias)
e agir sobre eles.
A Conscienciologia é a ciência da consciência, sendo a
autopesquisa uma das formas de adquirir o autoconhecimento. Assim, quando nos
disponibilizamos a realizar a autoinvestigação, podemos identificar os nossos
trafares (traços fardos, imaturos) e trafores (traços fortes, maduros) e nos
posicionar pela superação do próprio egocentrismo.
Isto acontece quando, pela vontade decidida, nos lançamos
em busca da superação do apego excessivo a nós mesmos e saímos da zona de
conforto em prol de mudanças íntimas. Esse movimento contribui para ultrapassar
o egocentrismo rumo à postura cosmoética (neologismo da Conscienciologia que
significa uma ética do cosmos que visa o melhor para todos, além da ética de
cada sociedade), nos possibilitando a pacificação íntima, uma condição
necessária para minimização da violência no contexto multidimensional.
Ana de Sena é professora,
assistente social e voluntária na Intercampi.
Fonte: Site da Intercampi
postado em 14/janeiro de 2010.
http://intercampi.org/2010/01/14/artigo-autoconhecimento-atitude-na-superacao-do-egocentrismo/
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