quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Ser coerente

Vitor Fortes

Após o período mais crítico da maturação humana, quando as células aumentam constantemente em volume e em quantidade, propiciando o desenvolvimento dos tecidos, dos órgãos e, consequentemente, do corpo, a humanidade se depara com a mais difícil empreitada a enfrentar: o projeto imaterial do desenvolvimento interno pessoal. Frequentemente, existem tentativas frustradas de fugir de si mesmo, como por exemplo, o apego a uma vida estritamente material. Mas a nossa essência, paradoxalmente, é de procedência imaterial.
Ao renascer, passamos por um período de restringimento. Informações e dados passados são esquecidos e cabe a nós o trabalho de recuperação. O campo de atuação lúcida e consciente é reduzido por nossas próprias imaturidades e ampliado a partir de esforços prósperos. De forma geral, as diferentes etapas que o ser humano cresce e desenvolve-se envolvem abundante carga de informações. O intelecto hígido, aberto e predisposto interage com essas informações e cria mais sinapses cerebrais. Assim, há mais formas de entender a realidade, propiciando, muitas vezes, a partir da autocrítica, a ascensão aos paradigmas pessoais e sociais nocivos.
A ampla compreensão da condição humana exige conhecimento, e este, por sua vez,envolve uma busca incessante. Além disso, exige-se também vivência prática. Mas não há motivos para desanimar, a sabedoria liberta. O hábito de pesquisa e leitura auxilia no conhecimento de novas ideias, expressões, palavras, sendo capaz de corrigir conceitos pré-determinados. Assim, através da leitura exercitamos a mente, o raciocínio, a reflexão, passando a ponderar sobre os atos internos e externos a nós. A atenção, antes voltada a criticar outras pessoas, passa a considerar os próprios atos. Progressivamente, alcançamos vislumbres perceptivos mais abrangentes, permitindo maior compreensão do que somos e das manifestações alheias.  Consequentemente, nossos traços fardos (pesados) são observados e passamos a exigir de nós mudanças positivas.
Ao ver nossas falhas, nos tornamos aptos a superá-las. A falta de cuidado consigo mesmo ao negligenciar as próprias mudanças torna a vida melancólica e incoerente. Ser coerente é uma busca evolutiva, errante e sem fim. Faz de nós catalisadores do desenvolvimento pessoal. Basta apenas vontade para alcançar o autoconhecimento e o significado da própria essência. O ser coerente transcende autoridade moral, facilitando ainda mais a assistência ao próximo. Mudar não é fácil, mas, como disse o pesquisador Waldo Vieira, “se você pensa que o autoconhecimento exige muito esforço, tente evoluir com a ignorância (Vieira, 2010)”. E aqui vale uma pergunta ao leitor:
Você é coerente consigo mesmo?

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