Thiago
Leite
Em praticamente todas as sociedades e culturas, existe a
valorização do pertencimento ao grupo e da ascendência hereditária. É comum
vermos em nossa própria sociedade o “orgulho de ser brasileiro” (ou qualquer
outra nacionalidade ou regionalidade) e a preservação da memória da família e
da fidelidade às origens genéticas.
A identidade étnica, segundo a Antropologia, se constrói
através de noções como: valores compartilhados em grupo; modo de vida peculiar;
um tipo de relação específica com outros grupos humanos; descendência comum,
entre outras.
De acordo com a História, sabemos que os grupos étnicos
surgem e desaparecem, sofrem cisões e se misturam, mudam o nome e/ou se
descaracterizam. Tratam-se de processos inevitáveis que corroboram a atual
noção da Biologia de que a espécie humana não se divide em raças, mas possui uma
mesma ascendência ancestral que remonta a hominídeos da África pré-histórica.
Portanto, a ciência fisicalista demonstra que a ideia de
que cada um de nós precisa se manter fiel aos valores e comportamentos de um
determinado grupo ao qual pertencemos socialmente é uma ilusão.
A Conscienciologia apresenta ainda mais argumentos a
favor da dessacralização dessas crenças. Segundo o Paradigma Consciencial, cada
consciência tem diversas vidas ao longo de sua existência, passando por
inúmeros processos de ressoma (também conhecida como reencarnação) e dessoma
(morte do corpo físico).
Para sair do estado mais rudimentar de protoconsciência
(vírus) e chegar a uma condição evolutiva como a dos seres humanos medianos, é
preciso ressomar centenas, milhares de vezes. Ora, considerando as mudanças
históricas na constituição dos grupos humanos, ressaltadas acima, é impossível
que alguém permaneça renascendo na mesma família ou no mesmo grupo étnico
eternamente.
Ao assumir que vivemos várias vezes antes de ter nascido
na vida atual e considerando que estivemos inseridos em diversas etnias e
diversos grupos humanos, às vezes até antagônicos entre si, como arrogar uma
suposta necessidade de manter determinada tradição? O bordão de que devemos ser
“fiéis às nossas raízes” esbarra num problema: a qual das inúmeras raízes, ou
seja, das inúmeras linhagens a que pertencemos ao longo de nossa existência,
devemos ser fiéis?
Isso é ainda mais sério se tivermos em conta a
possibilidade de termos vivido em outro planeta, com um corpo físico
extremamente diferente do humano, com uma origem evolutiva completamente
separada da linhagem animal da Terra.
Dessa forma, ao superar a noção de pertencimento a uma
raça, podemos nos considerar, por exemplo, humanistas, o que é uma postura mais
evoluída do que a condição etnocêntrica. Mas o humanismo ainda é limitado à
espécie humana. Assim, é mais universalista uma postura de respeito às outras
espécies vivas deste planeta ou de outros, se considerarmos a existência de
vida além da Terra.
Nas projeções da consciência (experiências fora do
corpo), podemos entrar em contato direto com consciências, também projetadas,
que atualmente vivem em outros planetas e assumem formas bastante alienígenas
para os padrões humanos, do mesmo modo que, para elas, os humanos são
alienígenas.
Provavelmente, num futuro, próximo ou distante, a
humanidade poderá ter contato com espécies alienígenas de outros planetas. Os
avanços de programas científicos como o SETI (Search for Extra-Terrestrial
Intelligence) e das explorações espaciais se encaminham nessa direção. Quando
isso ocorrer, seremos obrigados a rever o conceito de Direitos Humanos e
ampliar o escopo de nosso universalismo.
É preciso compreender que o universalismo abrange,
obviamente, todo o universo, todas as consciências que o habitam para chegarmos
ao ápice de uma ética universalista (ao menos até onde podemos vislumbrar) e,
do humanismo, caminharmos para o cosmismo.
Diante disso, podemos ampliar a compreensão de que cada
consciência é uma identidade, com sua própria linhagem. Não podemos reduzi-las
a grupos étnicos, a nacionalidades ou a nomes de família. “Sou eu mesmo, com
minha história particular e conquistas ímpares” é uma afirmação mais realista
do que “sou um membro da família Leite”, “sou um brasileiro” ou “sou um ser
humano".
Portanto, não interessa tanto procurar raízes no passado
de nossa família, nem adianta buscar no nosso próprio passado individual alguma
coisa perdida que precisa ser recuperada e preservada. Olhar para o
presente-futuro e construir nossa identidade através da priorização e do
discernimento é mais útil para o universo ao nosso redor.
Thiago Leite é
antropólogo, e também voluntário da Intercampi e pesquisador da
Conscienciologia.
Fonte:
Site da Intercampi, postado em 08/outubro de 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário