Por William Nascimento
Uma das definições possíveis de mediunidade é "a comunicação provinda de
uma fonte que é considerada existir em um outro nível ou dimensão além da
realidade física conhecida e que também não proviria da mente normal do
médium" (KLIMO, 1998 apud ALMEIDA e NETO, 2004, p. 131).
Estudos de Alvarado, Machado, Zangari e Zingrone, (2007) revelaram que a
mediunidade, veio a tona a partir do século XVIII nos EUA. No ano de 1847, em Nova York a família
Fox, marcava formalmente o inicio das chamadas sessões mediúnicas, fornecendo a
base para o que foi denominado de espiritismo. A família era composta pelo Sr.
e Sra Fox e três filhas, Leah (23), Margareth (15) e Katherine (12). Ocorreram
fenômenos estranhos em sua residência, como batidas nas paredes chamadas raps
de origem desconhecida, o fenômeno sempre ocorria na presença das duas
filhas menores. Elas codificaram essas batidas com objetivo de se comunicarem
com o autor invisível. A notícia espalhou e atraiu muitas pessoas em busca de
comunicação com os mortos, foram realizadas diversas sessões em que até as
mesas chegavam a girar. Mesmo mudando de residência os fenômenos voltaram a
ocorrer.
Por volta de 1870, outras sessões se espalharam pelos EUA, Europa e Brasil,
atraindo a atenção do cético pedagogo francês Hippolite Leon Denizard Rivail.
Acadêmico convidado a colher os relatos nos centros espíritas e unificar as
informações, passou a acreditar na mediunidade chegando a publicar em 1857, O
livro dos espíritos, adotando o pseudônimo Allan Kardec, segundo ele
ditado por espíritos. Posteriormente sob orientação espiritual, Kardec
publicou outras obras, O Livro dos Médiuns (1955), O Evangelho Segundo
o Espiritismo (1944), A Gênese (1944) e Céu e Inferno (1944). (ALVARADO,
MACHADO, ZANGARI, ZINGRONE, 2007).
Segundo Stoll (2009, p. 16) entendida como modo de comunicação entre vivos e
mortos, a experiência mediúnica promove, por meio do transe, a superposição
entre planos distintos de existência. A pessoa como no caso do candomblé, constitui o lugar de produção dessa conjunção. [...] A preservação da identidade
dos personagens envolvidos (isto é, dos "espíritos", assim como dos sujeitos empíricos que lhes dão suporte) constitui um pressuposto
da doutrina. O que se observa é que ela opera no eixo vertical, uma vez que se
entende que o encontro de seres de mesma natureza, porém desiguais quanto ao
seu grau de "desenvolvimento espiritual", concretizando-se por meio de relações assimétricas, de ordem hierárquica. A ideia de "faixas vibratórias", espécie de campo virtual de construção das relações de convivência entre vivos e entre estes "espíritos", complementam essa visão, sugerindo que os
vínculos construídos na experiência mediúnica são de "ordem moral".
Tal como no candomblé, acreditam os adeptos do espiritismo que a prática da
mediunidade promove o controle da experiência extática por parte dos sujeitos
empíricos [médiuns]. Isto é, uma vez ultrapassada a fase de iniciação, o assujeitamento
se torna voluntário. Daí afirmar-se que o médium não é alguém que
simplesmente se sujeita à vontade dos "espíritos". Diz-se que é ele
quem dá "passagem", "entra em harmonia", "abre seu
campo de vibração" para a manifestação do "outro". Com base
nessa concepção os espíritas distinguem o transe mediúnico da possessão.
"Deixar-se possuir", isto é alienar-se de si, constitui o que
eles definem como obsessão, categoria que utilizam para classificar
a experiência do aniquilamento da individualidade, isto é, do livre-arbítrio,
que define, segundo eles, o ser humano. (STOLL, 2009, p. 16).
Um outro autor vai um pouco mais além no que tange ao livre-arbítrio e a
sujeição aos espíritos. Segundo Vieira (2009, p. 799.) na sessão parapsíquica
[entenda por mediúnica] de qualquer gênero estamos apenas nas proximidades ou
cercanias das dimensões extrafísicas [isto é mundo espiritual]. Se desejamos
conhecer os seus habitantes, os seus ambientes, as suas comunidades atrasadas
ou evoluídas, os seus eventos, a sua parageografia, e sua para-sociologia,
precisamos entrar e viver, nem que seja temporariamente, nesses mesmos
ambientes. Não existem excursões turísticas, programadas para esse fim,
portanto, só há um recurso ou alternativa: promover a autoprojeção lúcida para
quem já demonstra esforço e disposição em tentativas e esforços continuados.
Aqui o autor está dando outra alternativa para a comunicação com o mundo
espiritual, o que ele chama de autoprojeção lúcida, significa que a pessoa pode
sair do corpo e ter acesso direto ao mundo extrafísico.
Vieira também aponta que 5% da humanidade tem algum talento parapsíquico,
e que 1% dessa humanidade já se projetou conscientemente para fora do corpo.
Também cita algumas vantagens da experiência fora do corpo. Segundo Vieira
(2009, p. 803) o projetor(a) consciente dispensa as qualidades destes agentes
de mediação e desempenha todas as tarefas diretamente [eliminando a sessão mediúnica]
e, com sua presença, vai, vê, vivencia e volta relatando, por si mesmo, tudo
sobre a dimensão extrafísica, de primeira mão, sendo o repórter, o comentarista
e o exegeta ao mesmo tempo. O autor relata ainda que o projetor consciente pode
fora do corpo, se manifestar através de um médium numa sessão mediúnica, mesmo
estando encarnado. Relata também que ao invés de esperar ajuda de algum
espírito benevolente, a própria pessoa pode ser o espírito bem feitor e
trabalhar em equipe junto aos amparadores [espíritos protetores que nos
auxiliam].
Neste artigo vimos uma breve história da mediunidade e do espiritismo e
realizou-se um paralelo com a prática da projeção consciente, apontado esta
última como alternativa mais anímica, autonômica, e de maior liberdade, em
relação a comunicação mediúnica com o mundo dos espíritos. Para aprofundar mais
sobre as projeções conscientes tratadas por Vieira, este autor sugere a visita
a este link: http://www.parasinapse.blogspot.com.br/2013/07/tecnicas-projetivas.html
que descreve as técnicas propostas pelo autor para sair do próprio corpo com
lucidez.
REFERÊNCIAS
1. Almeida e Neto. A mediunidade
vista por alguns pioneiros da área mental. Revista Psiquiatria Clínica. 31
(3); 132-141, 2004.
2. Alvarado, Machado, Zangari e
Zingrone. Perspectivas históricas da influência da mediunidade na construção
de ideias psicológicas e psiquiatricas. Revista Psiquiatria Clínica. 34,
supl 1; 42-53, 2007.
3. Stoll. Encenando o invisível: a
construção da pessoa em ritos mediúnicos e performances de
"auto-ajuda". Religião e Sociedade, RJ, 29 (1): 13-29, 2009.
4. Vieira. Projeciologia, panorama das experiências da
consciência fora do corpo humano. 10 ed. Foz do Iguaçu.
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