Thiago Leite
Na ciência tradicional, costuma-se
considerar que o sujeito e o objeto de pesquisa são duas instâncias separadas,
sem relação direta entre si, e que não podem se misturar. É a ideia do
distanciamento do cientista. A noção de que os fenômenos podem ser apreendidos
de maneira objetiva ignora o fato de que a própria ação do pesquisador já
implica na subjetividade de quaisquer fenômenos.
Essa mesma ciência tem deixado de
lado o estudo mais aprofundado da realidade integral da consciência, ou seja,
seu universo íntimo, as relações entre pensamento, sentimento e energia, suas
manifestações multidimensionais, a multiexistencialidade e a evolução
consciencial.
As abordagens da Psicologia, da
Psicanálise e das Neurociências, por mais que se preocupem com a compreensão
dos fenômenos da psique humana, ainda abarcam o tema de maneira superficial,
desconsiderando a impossibilidade de o pesquisador alcançar o âmbito da
intimidade do paciente, e a influência de sua atuação sobre o objeto de
pesquisa.
Portanto, ao se propor estudar um
objeto tão complexo como o é a consciência, a neociência Conscienciologia
assume que o universo intraconsciencial só pode ser apreendido pela própria
pessoa. Dessa forma, um dos principais postulados do Paradigma
Conscienciológico é a Autopesquisa, ou seja, o procedimento científico em que
sujeito e objeto de pesquisa coincidem; a consciência estuda a si mesma.
Entretanto, cabe perguntar: porque a
consciência se interessaria em conhecer melhor a si mesma? O que a motivaria a
empreender a Autopesquisa? O processo da Autopesquisa serve, em primeiro lugar,
para conhecermos melhor aquilo que já conquistamos e aquilo que dificulta nosso
desempenho existencial.
Considerando ainda que as
consciências não se desenvolvem nem evoluem sozinhas, e que no processo
evolutivo a interassistência é uma necessidade evolutiva do conjunto de todas
as consciências, a pessoa se conhecer melhor é um meio eficaz de se entender
quais mudanças podem auxiliar nas tarefas assistenciais pessoais e,
consequentemente, na autoevolução e na evolução de todos.
Aqui cabe mais uma pergunta: como
fazer a Autopesquisa e como aproveitar o Autoconhecimento daí adquiridos? É
preciso que o interessado compreenda que a Autopesquisa não é “achismo” e não
se faz apenas através da coleta de informações óbvias, daquilo que a pessoa
pensa sobre si mesmo ou daquilo que os outros dizem sobre ela.
A pesquisa científica da consciência
por ela mesma deve se embasar num método criterioso e se pautar pelo
discernimento e criticidade, sem autoenganos ou autocorrupções. Muitas das
coisas que precisamos saber sobre nós mesmos está abaixo da superfície de nosso
ego ou persona cotidiana, e precisa ser considerado na autoavaliação.
As ferramentas a ser usadas no
processo da Autopesquisa incluem anotações detalhistas sobre nossas
manifestações diárias, nossos pensamentos, sentimentos e sensações energéticas
em determinadas situações do dia a dia, a autoexperimentação de novas
situações, a busca por novos conhecimentos e a introspecção profunda, entre
outras.
Uma das técnicas mais pertinentes
para se elaborar um quadro realista sobre a própria personalidade é o
levantamento dos traços pessoais, os traços-força (trafor), os traços fardos
(trafar) e os traços faltantes (trafal). Os trafores são nossas qualidade,
predicados e virtudes, tudo aquilo no qual nos destacamos e que nos permite a
realização eficaz de determinadas atividades. Um exemplo de trafor é a
intelectualidade. Os trafares
são nossos vícios, defeitos ou fissuras, dificultando o desempenho
consciencial. Como exemplo de trafar, podemos elencar a autodesorganização. Já
os trafais representam os trafores que ainda não desenvolvemos e que faltam
para um melhor aproveitamento evolutivo. Uma pessoa que pretende estudar no
exterior e ainda não aprendeu um idioma estrangeiro tem um trafal: o
poliglotismo.
A Autopesquisa pode ser otimizada
através de um procedimento técnico, dividido em quatro etapas:
autoinvestigação, autodiagnóstico, autoenfrentamento e autossuperação. A
primeira etapa pode ser realizada pelo uso de registros pessoais diários, com o
levantamento de dados sobre as próprias manifestações. Pode-se, por exemplo,
relacionar os trafores, trafares e trafais, inclusive solititando que pessoas
do seu convívio preencham uma planilha para você, contendo esses dados.
A segunda fase, do autodiagnóstico,
é uma análise crítica dos dados angariados na primeira, para que o
autopesquisador diagnostique os possíveis desafios que tem a enfrentar na
melhoria do desempenho evolutivo. Uma das técnicas mais recomendadas para se
efetuar o autodiagnóstico é a análise rápida do Conscienciograma. Este
livro-técnica consiste em 2.000 perguntas que o pesquisador faz para si mesmo,
respondendo 20 questões por dia e se dando uma nota para cada um dos aspectos
ali relacionados. Ao final, ele terá um retrato de todos os principais traços
que precisa melhorar e construirá um plano de ações para a etapa seguinte.
O autoenfrentamento consiste na
tomada de atitudes e ações renovadoras, como abrir mão das imaturidades,
assumir os trafores e as responsabilidades que eles trazem, buscar novas
companhias que possam somar esforços em tarefas mais libertárias e eliminar as
autocorrupções e bagulhos que estejam tomando tempo e energia da pessoa. A
autossuperação, enfim, é a manutenção do enfrentamento contínuo, com a
utilização do excedente de energia advindo do descarte de objetos e posturas
antievolutivas.
Você já procura promover a
Autopesquisa com vistas ao Autoconhecimento? Tem promovido autorreciclagens?
Quais os resultados práticos de sua Autopesquisa até agora?
Thiago Leite é voluntário do INTERCAMPI em Natal.
Fonte: Site da Intercampi, postado em
03/setembro de 2012
http://intercampi.org/2012/09/03/autopesquisa-conscienciologica/
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