Rute
Pinheiro
Há duzentos anos, no dia 12 de
outubro de 1810, nascia em Papari, hoje município de Nísia Floresta, no Rio
Grande do Norte, uma mulher admirável e ousada, com ideias muito à frente do
seu tempo – Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida como Nísia Floresta Brasileira
Augusta.
Filha de
Dionísio Gonçalves Pinto e Antonia Clara Freire, Nísia teve apenas dois filhos,
Livia Augusta e Augusto Américo, frutos do seu relacionamento com Manuel
Augusto de Faria Rocha, o grande amor da sua vida.
Esta brasileira, adjetivo por ela
mesma adotado no seu pseudônimo, apresentava desde jovem uma ampla cultura,
ideias invulgares e coragem de defender publicamente, em conferências,
publicações de jornais ou livros, seus posicionamentos abolicionistas,
indigenistas, republicanos e em prol da valorização da mulher através da
educação, o que a fez ser considerada uma das pioneiras do feminismo no Brasil.
Estas suas ideias vanguardistas podem ser verificadas em várias de suas
obras, dentre as quais seu primeiro livro Direitos das Mulheres e Injustiça
dos Homens, publicada quando tinha 22 anos, tradução livre de A Vindication
of the Rights of Woman, de Mary Wollstonecraft.
Após sair de Papari, residiu também
em Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, no Brasil, e em alguns
países europeus, tais como Portugal, Itália e França, onde morreria, em 24 de
abril de 1885. Em 1954, seus restos mortais foram trasladados para o Rio Grande
do Norte e enterrados em Nísia Floresta. Visitou ainda outros países na Europa,
em viagens descritas de tal forma que levam seus leitores a viajarem junto com
ela, nos livros Itinerário de uma Viagem à Alemanha e Três Anos na
Itália, Seguidos de uma Viagem à Grécia.
Mesmo depois de vários anos da sua
morte, conforme citado por Constância Duarte, uma das maiores pesquisadoras
sobre Nísia Floresta, no seu discurso de recebimento do título de cidadã
honorária do RN, Nísia continuava surpreendendo plateias ávidas em conhecer
mais a seu respeito, em Lisboa, Madrid, Buenos Aires, Londres, Paris,
Varsóvia, Cracóvia, New Orleans e Nova York, algumas das cidades que sediaram
congressos nos quais ela falou de nossa escritora.
No Colégio Augusto, no Rio de
Janeiro, Nísia aplicava uma pedagogia de vanguarda, trazendo inúmeras inovações
ao ensino feminino, tais como o ensino de línguas, gramáticas e literaturas,
Geografia e História, prática de Educação Física, e limitação do número de
alunas, divergindo de outros estabelecimentos voltados para a educação
feminina, assim como da política governamental da época, onde estes
conhecimentos não eram considerados prioritários na educação da mulher.
Nísia Floresta teve um total de 15
obras publicadas, algumas com edições em português, francês, italiano e inglês,
dentre as quais ressaltamos Conselhos a Minha Filha, com quatro
publicações, sendo duas em português, uma em italiano e uma em francês.
Segundo a Conscienciologia, o estudo
de biografias de personalidades históricas como Nísia Floresta nos ajuda no
processo de autoconhecimento, uma vez que ao analisarmos os traços do
biografado podemos refletir sobre qual percentual destas características nós já
temos desenvolvido em nós mesmos ou não.
Nísia Floresta pode ser considerada
uma mulher de cultura invulgar, energia inquebrantável, autodidatismo,
poliglotismo, audácia, ousadia, agudeza, assistencialidade, vanguardismo,
lucidez, poder descritivo, cultura polimorfa, determinação, fraternismo, dentre
outros traços marcantes.
Se uma mulher, numa época em que
mulher não tinha sequer direito à educação igualitária, nem muito menos
direitos políticos, conseguia se posicionar e defender publicamente seus
ideais, vale a pena refletirmos quanto às nossas posturas e posicionamentos, no
atual contexto em que estamos inseridos, com a facilidade de acesso às
informações e liberdade de expressão que temos. Quantos de nós sequer assumimos
as responsabilidades perante nós mesmos, nossa evolução, ou nos preocupamos em
contribuir para melhorar a realidade da cidade, do país ou do planeta em que
vivemos?
Nísia, uma potiguar do século XIX,
fez com que suas ideias repercutissem na Europa, para a abolição da escravatura
no Brasil, como relatado em Duarte (1995), “tais apelos de Nísia Floresta,
escritos em francês e em italiano, com circulação entre os mais altos
intelectuais da Europa, contribuíram para preparar a intervenção da Junta
Francesa de Emancipação, em 1866, junto ao Imperador, pedindo-lhe a abolição
da escravatura no Brasil”.
E você, leitor ou leitora, já parou
para observar seus traços pessoais e utilizá-los em prol de você mesmo ou do
seu próximo? Se não assumirmos nossos traços pessoais, nossas potencialidades,
e nos posicionarmos perante a vida e a evolução, seguiremos à deriva, no rumo
do que os outros decidirem. Na vida, se você não decide, alguém decide por
você.
Nísia Floresta foi sem dúvida uma
grande personalidade do século XIX, e o seu trabalho de educação e busca de
conscientização da sociedade da época pode-se considerar excepcional, tendo
contribuído com muitas das lutas as quais defendeu.
Agora, cabe a cada um de nós,
personalidades do século XXI, contribuir com nossos melhores pensamentos,
sentimentos, energias e ações para um mundo melhor, e assim, a exemplo de Nísia
Floresta, conseguirmos gerar repercussões não apenas em países, mas no cosmos,
em prol do desenvolvimento de uma humanidade mais fraterna e universalista.
Rute
Pinheiro é Bióloga, professora e pesquisadora da Conscienciologia e voluntária
do INTERCAMPI
Fonte: Site da Intercampi postada em
07/outubro de 2010.
http://intercampi.org/2010/10/07/artigo-nisia-floresta-200-anos-de-vanguardismo/
Nenhum comentário:
Postar um comentário